O Visitante Misterioso

Esta história aconteceu há alguns anos, com uma grande amiga dos tempos da faculdade. O nome dela, claro, não direi; é para que sua identidade seja mantida em segredo. Contarei o acontecido porque muito me impressionou, e, além disso, um fato semelhante ocorreu com outra conhecida minha. Vocês já devem ter ouvido falar em um ser chamado Íncubus. A história de Clara, nome fictício de minha amiga, começa com uma visitinha dessa criatura.

Antes, darei uma explicação sobre o que é Incubus: "Na Lenda medieval ocidental, um Íncubos (em latim incubus, de incubare) é um demônio na forma masculina que se encontra com mulheres dormindo, a fim de ter uma relação sexual com elas. O Íncubus drena a energia da mulher para se alimentar, e na maioria das vezes, o Íncubus deixa a vítima morta ou então viva, mas em condições muito frágeis. A versão feminina desse Demônio é chamada de Súcubos."

Bem, fazia muito tempo que Clara vinha tendo uns pesadelos. Na realidade, há meses que sonhava o mesmo sonho. Antes, era esporádico. Nos últimos tempos, era quase toda noite, fato que a estava deixando extremamente preocupada e com medo. Segundo ela, era mais ou menos assim: Ela sonhava que estava em um local estranho, como se fosse um quarto de uma mansão, e que, apesar de suntuoso, era decrépito e muito antigo. O aposento tinha móveis pesados e escuros e havia tapetes no chão. Cortinas pesadas, em um material que parecia veludo, dava ao ambiente um clima de austeridade e aristocracia que mais parecia ter saído de um filme. Clara guardou os detalhes porque, para ela, já era rotina parar naquele lugar durante seu sono.

Ela ainda mencionou que o lugar era iluminado por velas. Lá, Clara deitava na cama e esperava um cavalheiro extremamente bonito que lhe sorria e começava a seduzi-la. Quando este iniciava a beijá-la, ia se transformando em uma espécie de criatura com dentes pontiagudos, unhas compridas e olhos vermelhos. O mais interessante, segundo ela, era que, no princípio, adorava as tais visitas, uma vez que a a forma do ser era fascinante. Além disso, havia a repetição de uma frase que ele dizia aos seus ouvidos: "Vita Mea. Sum tenebrae." Ela, como estudante na época do segundo período de Letras, adorava latim, apesar de não saber muita coisa sobre tal língua.

Com o passar dos tempos, Clara começou a ficar amedrontada, uma vez que estava chegando à conclusão que aquilo não era normal. O pior de tudo vem depois, quando ela, finalmente, decidiu procurar ajuda para tal situação. Depois de uma dessas noites, ela acordou cheia de arranhões, o que demonstrou que o sonho tinha sido real. Ainda protestei, dizendo que ela mesma havia se machucado. Porém, pela posição dos arranhões, era humanamente impossível que ela os tivesse feito, a não ser que fosse praticante de contorcionismo e eu não o soubesse. Estava também muito fraca, com as forças a sumir.

Nesse dia, bastante abatida, me contou o que se passava. Aconselhei-a a procurar alguém ligado à psicologia ou, em último caso, à espiritualidade e que pudesse orientá-la como agir nessa situação. Optando pelo segundo item, foi em busca de uma tia, que é espiritualista e estudiosa das artes mágicas. Foi essa parenta quem a ajudou dizendo que minha amiga estava sendo visitada por um Íncubus, e que a possuía todas as noites. Para espantar essa criatura, Joana, tia de minha amiga, disse que na hora que o tal viesse, que lhe rezasse uma oração de São Miguel, olhando bem nos olhos do visitante.

Quando a noite chegou, o processo se repetiu e ela, automaticamente fez o que foi pedido. No mesmo instante, a coisa urrou e abraçou Clara. Em seguida, desapareceu. Movidas pela curiosidade, fomos atrás e descobrimos, mais tarde, junto a um professor de letras, o significado das frases da criatura: "Minha vida, eu sou as trevas". Clara nunca mais "sonhou" com o Íncubus. A única coisa que restou foi a recordação de um pesadelo e uma discreta marca na pele decorrente de um arranhão profundo dado no dia em que, pela última vez, recebeu seu demônio-amante.