sábado, 20 de julho de 2013

NADA COMO UM BOM SUSTO PARA ACORDAR





Eu saio todo dia de manhã para o trabalho antes do sol nascer. Eu trabalho em um provedor de Internet de São Paulo e preciso estar lá sempre bem cedo. Como eu acordo antes das 5:00 geralmente, sempre estou sozinho pela casa enquanto me arrumo e tomo o café da manhã. A única companhia que eu tenho, é o cachorrinho da família, um Cocker Spaniel.

Nós moramos em uma casa em um condomínio fechado. Sempre que o meu pai chega ele põe o carro na garagem, que não tem porta por ser dentro de um condomínio fechado, e que é bem pequena, cabe só um carro e passa só uma pessoa por vez com o carro lá. Mas para o cachorro não fugir tem um portãozinho entre o quintal de trás e a garagem onde os dois se encontram. A saída da cozinha é pela lateral da casa e a gente tem que passar por esse portãozinho para entrar ou sair.

Todos os dias eu pego o jornal que geralmente está ao lado do carro, que é onde o porteiro joga ele, e jogo do lado de dentro do portãozinho perto da porta da cozinha, para a minha mãe não ter que sair até lá fora para pegar o jornal. O cachorro sempre fica lá me vendo ir embora, mas nunca faz barulho nenhum, nem quando eu jogo o jornal, o máximo que ele faz é deitar em cima e dar uma roída de leve e depois entra em casa e vai dormir no sofá.

Nesse dia aconteceu como sempre, estava tudo de acordo com a minha rotina, até o momento que eu sai de casa. No que eu coloquei o pé para fora de casa, eu senti um arrepio estranho. Lá fora estava tudo escuro, apenas uma luz fraca do poste que ficava perto de casa, que não chegava a iluminar muita coisa. Aquele silêncio todo estava me incomodando. Eu passei pelo portãozinho e o meu coração começou a acelerar. Eu olhei para o jornal e fui pegá-lo como sempre. A cada passo que eu dava para chegar perto do jornal, eu sentia os músculos da minha perna ficarem cada vez mais fracos. Eu não tinha idéia do que estava acontecendo comigo. Eu cheguei até o jornal e me abaixei para pegá-lo quando eu ouvi o ultimo som que eu gostaria de ouvir, o meu cachorro rosnando. Ele só rosna quando se sente ameaçado e com medo. Eu estava abaixado do lado do carro do meu pai ainda e dei uma olhada em volta. Não vi nada, mas o cachorro continuava rosnando. Eu resolvi que já estava na hora de ir embora de uma vez, então eu joguei o jornal por cima do portão e me apoiei no carro para me levantar. No que eu estou levantando eu olho para dentro do carro, e eu juro que quase morri de uma parada cardíaca ali mesmo. Do outro lado do vidro eu vi uma garotinha de uns 8 anos de idade, sentada no banco do passageiro na frente do carro, com um vestido bem antigo e com um tom de pele bem azulado. Ela estava com uma cara muito séria, parecia que estava brava com algo.

No que os olhos dela encontraram os meus eu senti um pânico que eu nunca tinha sentido. O pavor tomou conta de mim, eu queria gritar mas não consegui soltar um barulho se quer. A única coisa que eu consegui fazer foi pular para trás e cair no meio de um monte de planta e vazo que tem onde a parede da garagem acaba. O cachorro não parava de latir e eu só conseguia pensar "ela me viu, ela me viu, ela me viu." Eu levantei do meio das plantas correndo.

Depois de algum tempo, o cachorro parou de latir. Eu resolvi voltar e ver o que tinha acontecido e vi ele deitado em cima do jornal, roendo a ponta dele. O carro estava vazio e não tinha sinal da menininha em lugar nenhum, e toda aquela sensação de medo tinha sumido.

Depois de dar uma olhada rápida de longe na garagem eu resolvi ir trabalhar. Eu nunca mais vi a menininha.

Eu nunca contei essa história para ninguém, até agora. Eu nunca senti tanto medo na minha vida feito naquele momento, mas pelos menos eu perdi todo o sono que eu tava.

César - São Paulo - S.P. 

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