sábado, 20 de julho de 2013

GAROTO BRAVO


Quando eu era pequena a minha família morava em Atibaia. Nós tínhamos nos mudado para uma nova casa fazia pouco tempo. Era uma casa com um terreno gigantesco. Nessa época eu devia ter entre oito ou nove anos. O meu quarto ficava na parte de trás da casa, e dava para ver quase todo aquele quintalsão.

Por muito tempo, nada de estranho aconteceu comigo, mas eu me lembro de sempre ir dormir com medo de algo. Era sempre tão frio, mesmo no verão, quando era bem quente lá fora. Os meus pais falaram que eu iria me acostumar com o quarto, mas eu nunca me acostumei. Esse medo de noite e o frio inexplicável duraram por quatro anos.

Mas uma noite eu decidi que estava cansada de ficar com medo. Eu me forcei a levantar e ir até a janela e olhar para o quintal. Havia alguém lá, um garoto, e mesmo que estivesse escuro feito piche, eu podia ver ele como se fosse meio dia. O rosto dele era pálido e os seus olhos muito tristes. Eu não sei como, mas mesmo ele estando bem longe, eu sabia como era o rosto dele. Ele parecia estar bravo. Uma coisa que me chamou atenção também foram as roupas dele. Pareciam ter décadas.

Eu fiquei tão assustada que eu não conseguia sair da janela. O garoto olhou para mim e o espaço entre nós pareceu não ser maior do que o espaço entre eu e a tela do computador agora. Eu tentei gritar, mas nenhum som saiu da minha boca. Eu me sentia tão triste e assustada. Os meus olhos estavam cheios de lágrimas, mas eu não sabia se era por causa da tristeza ou do medo.

Finalmente o garoto sumiu e eu consegui gritar. E como eu gritei! Os meus pais correram e eu contei para eles o que eu vi. Eles insistiram que eu estava andando dormindo ou que era algum pesadelo, e falaram que era para eu voltar para a cama e dormir. Mas eu não consegui mais dormir por um bom tempo.

Alguns dias mais tarde eu perguntei para um vizinho alguma coisa sobre o assunto. Ele me contou que coisas estranhas sempre aconteceram um pouco depois de onde a minha casa estava e que as vezes, as pessoas que moravam lá viam coisas, e as vezes não.

Mais tarde naquela note eu estava na cozinha, que ficava bem embaixo do meu quarto. Eu estava preparando um lanche quando eu olhei para fora da janela e quase morri de susto. O garoto da outra noite estava lá fora, mas bem mais perto do que da outra vez. O rosto dele estava muito mais bravo do que estava antes. Eu corri para a sala e contei para o meu pai o que eu tinha visto. Mas quando ele saiu para ver o que era, não achou ninguém lá fora. O meu pai estava começando a ficar preocupado comigo, e sinceramente, eu também estava. mas o pior ainda não tinha acontecido.

Quando eu fui para o meu quarto naquela noite, o garoto voltou, mas dessa vez ele estava no meu quarto, bem na frente da janela (que estava fechada). Ele parecia muito, mas muito bravo. Eu fiquei tão assustada que tudo o que eu pude fazer foi gritar. Os meu pais vieram correndo, mas dessa vez parece que eles viram alguma coisa, porque eles me agarraram, me puxaram para fora do quarto e bateram a porta. ninguém dormiu naquela noite, então eu contei o que o vizinho tinha me dito. Eu nunca mais dormi naquele quarto.

No dia seguinte o meu pai foi conversar com o vizinho e voltou bem preocupado. Ele falou que o vizinho disse que o garoto nunca chegou tão perto antes, que ele nunca tinha entrado na casa antes. Ele achou que era um mau sinal, então ligou para a imobiliária que nos vendeu a casa. O agente imobiliário falou que algumas pessoas viram algumas coisas estranhas na casa, mas que nunca nada de ruim aconteceu, que era tudo superstição e coisas de gente com imaginação fértil. O meu pai não quis arriscar e arranjou para nos mudarmos de lá na semana seguinte.

As vezes eu ainda vejo aquele garoto nos meus sonhos, mesmo isso tudo tendo acontecido a dez anos atrás. Eu nunca vou esquecer o terror de sentir que tem alguma outra presença estranha no quarto comigo, e nem a tristeza e a raiva no rosto daquele garoto.

Marisa - São Paulo - S.P. 

Sem comentários:

Enviar um comentário