Isso aconteceu a mais ou menos 7 ou 8 anos atrás, eu estava com 8 anos e o
meu irmão 11.
O meu irmão, Caio, e o amigo dele, Pedro, estavam brincando no jardim, e eu como
gostava do meu irmão, fui junto deles. A gente ficou correndo lá fora por um
tempo e então se cansou.
Tem uma pequena floresta que fica de um lado e atrás da minha casa, uma rua bem
movimentada em frente de casa e uma casa do outro lado da minha. E tem um trilho
de trem que passa por perto de casa, mas você tem que entrar na mata e andar um
bocado, mas ele já está abandonado faz um tempão e nenhum trem passa lá.
Nós estávamos tão entediados que acabamos entrando na mata, sem ir avisar os
meus pais antes. Um GRANDE erro para um garoto de 11 anos, um de 12 e uma de 8.
Nós estávamos andando pela floresta e nunca tínhamos ido tão longe assim. Eu
queria voltar para casa (eu tinha 8 anos e era uma chorona), mas os garotos
queriam ficar e eu não conseguiria voltar sozinha, então eu não tive escolha.
Foi quando nós vimos os trilhos de trem. O Caio e o Pedro saíram correndo e eu
fiquei ali parada e comecei a chorar. O Pedro, que era o bonzinho, voltou e
falou que estava tudo bem, que eu não precisava chorar, que nós já estávamos
voltando.
Nós começamos a andar de novo e fomos em frente, saindo dos trilhos e entrando
no mato. Depois de um bom tempo andando, vimos mais para frente a mata se
abrindo, eu fiquei relaxada e contente achando que era a minha casa já, mas
quando chegamos perto, era o trilho de novo. A gente achou estranho, por que a
gente tinha saído dele, mas como a gente fez algumas curvas, simplesmente
achamos que tínhamos feito um círculo. Então víramos para trás e começamos a
andar de novo.
Depois de mais um tempo andando, chegamos a um barranco que não tínhamos visto
antes. O meu irmão, Caio, falou que sabia onde estávamos que já tinha ido lá
subiu o barranco e continuou em frente. Mais alguns minutos depois e acabamos
voltando para outro ponto dos trilhos. O meu irmão olhou para um lado, olhou
para outro e andou um pouco mais para frente. Eu fiquei parada lá no meio do
trilho olhando para um lado e para o outro dele pensando se algum trem passava
por ali, com o Pedro do meu lado chutando uma pedra. O Caio voltou e falou, BEM
NA MINHA FRENTE, "a gente ta perdido." Eu comecei a chorar de novo, mas o Caio
simplesmente agarrou a minha mão e me arrastou para continuarmos andado como se
tivesse tudo bem.
Ficamos andando por volta de mais uma hora seguindo o trilho. Foi ai que eu
comecei a ouvir uma música tocando. Era maravilhosa e parecia ser uma flauta.
Ela tocava e parava. Depois de um tempo tocava de novo. Quando eu ouvi primeiro,
estava vindo da minha direita. Quando eu ouvi de novo, estava na minha direita
ainda, mas mais para a frente. Eu comecei a seguir a música, e o Pedro e o Caio
não querendo que eu me perdesse deles, vieram atrás de mim. A gente ainda estava
nos trilhos e eu ouvi alguém andando em volta da gente e só queria voltar para
casa.
Depois de algum tempo a música estava vindo de dentro da mata e para continuar
seguindo ela, eu tinha que sair dos trilhos. O Caio tentou me segurar falando
que a gente ia se perder mais ainda se continuássemos seguindo a música, e que
era perigoso, porque a gente nem sabia quem tava tocando.
A música tinha parado de tocar e nós ficamos parados olhando para dentro da mata
para o lugar onde tínhamos ouvido ela pela última vez. Eu ouvi o som de alguém
andando atrás da gente na mata e a música tocou de novo na nossa frente, como se
tivesse avisando que tinha algo atrás da gente. Eu não pensei duas vezes e corri
na direção da música.
Ficamos andando por mais meia hora dentro da mata, ouvindo aquela flauta tocar,
não uma música contínua, mas algumas melodias. Ela tocava e parava, as vezes
fazendo a gente mudar de direção. Ela não parecia estar muito longe, mas não
conseguíamos ver de onde estava vindo o som. Não víamos ninguém mais no meio da
mata, não ouvíamos os passos de ninguém, o que é bem difícil de não se ouvir se
tivesse mais alguém lá no meio do mato com a gente.
Após um tempo andando eu vi uma construção e a estrada. Nós saímos correndo para
lá. Era um centrinho de compras aqui da cidade, onde tem uma padaria, umas
lojinhas e alguns restaurantes. O centrinho ficava a alguns quarteirões da minha
casa. Na frente da padaria estava a minha mãe, chorando, e o meu pai abraçando
ela, falando com um policial. Assim que eu vi eles, eu sai correndo na direção
deles. A minha mãe me abraçou e me pegou no colo e deu uma bronca no Caio por
não ter avisado ela que ia sair. E esse foi o fim do pesadelo.
Até hoje eu não sei quem ou o que estava tocando a flauta e o que era que
poderia estar no seguindo na floresta. Não sei se tem algum espírito bom ou mal,
ou talvez os dois, lá dentro da floresta.
Eu já voltei algumas vezes lá depois do que aconteceu, mas não cheguei a ouvir o
som daquela flauta tocando. E também não me perdi. Mas mais uma coisa que eu
acho estranha, é que eu não entendo como nos perdemos. O caminho da minha casa
até os trilhos parece ser tão simples agora. Eu não sei se por que éramos
pequenos, nos perdemos, ou se alguma coisa queria que nós.
Tininha - MG
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