A Sociedade Thule (em alemão: Thule-Gesellschaft) foi uma sociedade secreta,
racista e oculta que foi fundada em 17 de Agosto de 1918 por Rudolf von
Sebottendorff em Munique. O nome Thule é derivado da ilha mítica Thule.
O seu nome original era "Studiengruppe für germanisches Altertum" (Grupo de estudo
para antiguidade germânica), mas em breve ela começou a disseminar
propaganda anti-republicana e anti-semítica. Foi um grupo precursor
importante para a fundação do "Deutsche Arbeiter-Partei" (Partido Alemão
dos Trabalhadores) que mais tarde se tornaria o NSDAP (Partido
Nazista). Teve membros dos escalões de topo do partido, incluindo Rudolf
Heß, Alfred Rosenberg, inclusive Adolf Hitler que foi iniciado na
Sociedade Thule por Rudolf Heß, enquanto estavam presos no forte de
Landsberg.
O símbolo associado com o grupo Thule era uma adaga.
A sociedade Thule permanece hoje em
funcionamento, dispondo mesmo de uma página oficial na Internet. Está
sob observação do Ofício Federal para a Proteção da Constituição da
Alemanha por receio do fomento da ideologia Nazi ou Neo-Nazi.
Centro Mágico
Acreditava-se que Thule teria sido o
centro mágico de uma civilização desaparecida. Muitos ocultistas
alemães acreditavam que nem todos os segredos de Thule haviam perecido.
Criaturas intermediárias entre o Homem e outros seres inteligentes do
além colocariam à disposição dos Iniciados, ou seja, os membros da Sociedade
Thule uma série de forças que podiam ser reunidas para tornar possível
que a Alemanha dominasse o mundo... Seus líderes seriam homens que sabem
tudo, obtendo sua força da própria fonte de energia e guiados pelos
Grandiosos do Mundo Antigo. Era sobre esses mitos que a doutrina ariana
de Eckardt e Rosenberg se fundamentava e que esses profetas, instilaram
na mente receptiva de Hitler. A Sociedade de Thule logo se tornaria um
instrumento na transformação da própria natureza da realidade. Sob a
influência de Karl Haushofer, o grupo assumiu sua verdadeira
característica como uma sociedade de Iniciados em comunhão com o
Invisível e se tornou o centro mágico do movimento nazista.
Haushofer era membro do Pavilhão
Luminoso, uma sociedade secreta budista no Japão, e da Sociedade Thule.
Haushofer certamente veio a conhecer em 1905, e a versão que René Guénon
apresentou em seu livro, Le Roi du Monde,
após o cataclismo de Gobi, os lordes e mestres desse grande centro de
civilização, os Oniscientes, os filhos das Inteligências do Além,
levaram sua vasta morada para o assentamento subterrâneo sob o Himalaia.
Ali, no coração dessas cavernas, eles se dividiram em dois grupos, um
que seguia o “Caminho da Mão Direita”, e outro que seguia o “Caminho da Mão Esquerda”.
Os primeiros concentravam-se em Agartha, um local de meditação, uma
cidade oculta de bondade, um templo de não-participação nos assuntos
deste mundo. Os outros se dirigiram a Shamballah, uma cidade de
violência e poder, cujas forças comandam os elementos e as massas da
humanidade e apressam a chegada da raça humana no “momento decisivo do
tempo”.
Assim, foi mais como um iniciado da
teocracia oriental que como um geopolítico que Haushofer supostamente
proclamou a Hitler a necessidade de “retornar às origens” da raça humana
na Ásia Central. Ele estava, portanto, defendendo a conquista nazista
do Turquistão, Pamir, Gobi e Tibet para assegurar o acesso da Alemanha a
esses centros ocultos de poder do Oriente.
Essa imagem
sensacionalista da Sociedade Thule e de seus membros era bem real.
Hitler teria comparecido secretamente a várias reuniões da Sociedade
Thule. Seu fundador, Rudolf von Sebottendorff, certamente mantinha pelo
interesse no oculto, um diário detalhado de suas reuniões regulares de
1918 a 1925 mantido por seu secretário, Johannes Henng, menciona
inúmeras palestras sobre esses tópicos. Crescendo em importância como um
grupo ocultista por trás do Partido Nazista, a Sociedade Thule era
politicamente poderosa em 1920 e iniciou suas atividades de forma
completamente secreta em 1925. Durante seu apogeu, a Sociedade Thule era
definida por sua ideologia nacionalista e anti-semita e um corpo de
membros da classe média alta, e classe alta de Munique.
Em 1939 sai uma expedição da SS,
liderada por Ernst Schãfer, teria ido ao Tibet com o expresso propósito
de estabelecer uma conexão de rádio entre o Terceiro Reich e os lamas, e
estabelecer uma conexão e uma colônia na Alemanha de Monges Tibetanos
ligados a Tradição Bön-Po.
Walter Johannes Stein
(1891-1957), um judeu vienense que havia emigrado da Alemanha para a
Grã-Bretanha em 1933, a quem falsamente atribuiu a mais fantástica
história de inspiração demoníaca de Hitler. Antes do estabelecimento do
Terceiro Reich, Stein ensinava na Escola
Waldorf em Stuttgart, que era dirigida segundo os princípios
antroposóficos de Rudolf Steiner. Durante sua época nessa escola, Stein
escreveu um livro versado e curioso, Weltgeschichte im Lichte des
Heiligen Gral (1928), que dava uma interpretação espiritual da história e
sua realização cristã baseada na lenda do Santo Graal. Em particular,
Stein argumentou que romance do Graal de Wolfram von Eschenbach,
Percival (cerca de 1200), baseava-se no cenário histórico do século IX, e
os personagens fabulosos do épico correspondiam a pessoas reais, que
viveram durante o Império carolíngio. Por exemplo, o Rei do Graal,
Anfortas, foi apontado como Carlos, o Calvo, neto de Carlos Magno;
Cundrie, a feiticeira e mensageira do Graal, seria Ricilda, a Má; o
próprio Percival foi considerado como sendo Luitward de Verceili, o
chanceler da corte franca; e Klingsor, o mago maligno e dono do Castelo
das Maravilhas, foi identificado como Landulf II Cápua, um homem de
reputação sinistra devido ao seu pacto com os poderes pagãos do Islã, na
Sicília, então ocupada pelos árabes. A batalha entre cavaleiros
cristãos e seus malignos adversários foi compreendida como uma alegoria
de sua duradoura luta pela posse da Lança Sagrada, a Lança de Longinus
que teria perfurado o dorso de Cristo durante a crucificação. Com base
nesse possível contato com Stein e o conhecimento de obra, Ravenscroft
desenvolveu sua própria história oculta do nazismo, e a obsessão de
Hitler com os mistérios do Graal e a Lança Longinus.
Em A Lança do Destino, Ravenscroft
descreveu como o jovem estudante Stein havia descoberto uma cópia gasta,
de segunda mão. Percival, de Eschenbach, em uma livraria ocultista no
velho bairro de Viena, em agosto de 1912. Esse volume continha muitos
rabiscos manuscritos como comentários do texto que interpretavam o épico
do Graal como testes de iniciação em uma jornada de obtenção de
consciência transcendental. Essa interpretação era apoiada por muitas
citações, na mesma letra, de religiões orientais, de alquimia, de
astrologia e de misticismo. Stein também notou que uma forte temática de
ódio anti-semita e fanatismo racial pan-alemão impregnavam todo o
comentário. O nome escrito no lado de dentro da capa do livro indicava
que seu dono anterior era um tal de Adolf Hitler.
Com a curiosidade a respeito desses
rabiscos despertada, Stein supostamente voltou à livraria e perguntou ao
proprietário se poderia lhe dizer qualquer coisa sobre esse Adolf
Hitler. Ernst Pretzsche informou a Stein que o jovem Hitler era um
estudante assíduo do oculto e lhe deu seu endereço. Stein procurou por
Hitler. Ao longo de seus freqüentes encontros no final de 1912 e início
de 1913, Stein aprendeu que Hitler acreditava que a Lança de Longinus
concederia ao seu dono poder ilimitado para o bem ou para o mal. A
sucessão de donos anteriores supostamente incluía Constantino, o Grande;
Carlos Martel; Henrique, o Caçador de Aves; Oto, o Grande, e os
imperadores Hohenstauffen. Como propriedade da dinastia de Habsburg
desde a dissolução do Sacro Império Romano Germânico em 1806, a Lança
Sagrada agora estava exposta na Casa do Tesouro dos Hofburg, em Viena.
Hitler estava determinado a adquirir a lança para garantir o sucesso de
sua própria tentativa de dominação mundial. Hitler acelerou seu
desenvolvimento no ocultismo pelo uso de Peiote e da Chacrona, um
alucinógeno que Pretzsche lhe teria fornecido após ter trabalhado no
México, até 1892, como assistente de um apotecário, na colônia alemã na
Cidade do México.
O conhecimento de Hitler
sobre os romances do Graal e da Lança de Longinus poderia ser facilmente
atribuído ao seu ardente entusiasmo pelas óperas de Richard Wagner
(1813-83), a quem idolatrava como o maior intérprete do espírito popular
germânico. O Graal e seus cavaleiros desempenhavam um papel central em
Lohengrin (1850), que Hitler vira pela primeira vez aos doze anos em
Linz e novamente mais dez vezes durante sua época em Viena, entre 1907 e
1913. Parsifal (1882), o último trabalho de Wagner e o único a envolver
a Lança, baseava-se na história do Graal de Eschenbach, mas fundia o
simbolismo cristão original com a mística do sangue do mito racial
ariano. Nessa ópera, Parsifal (ou Percival) era o campeão
casto dos homens arianos, o único que poderia recuperar a lança
sagrada, que penetrara o dorso de Cristo, e assim preservar o Graal, o
talismã da raça alemã.
História
Thule é uma ilha ou região
identificada pelos geógrafos clássicos como a mais setentrional das
terras conhecidas. Também são encontradas, em textos e mapas medievais e
do início da Idade Moderna, as grafias Thile, Tile, Tilla, Toolee e
Tylen.
A Thule dos antigos
O primeiro a falar de Thule parece ter sido explorador grego Píteas (Pytheas), em Sobre o Oceano, obra escrita após as viagens
que teria feito ao norte entre 330 a.C. e 320 a.C., quando foi enviado
pela colônia grega de Massalia (atual Marselha) para pesquisar a origem
de produtos ali comercializados. A obra foi perdida, mas citada por
geógrafos posteriores.
Políbio, em suas Histórias (140
a.C.), cita Píteas como tendo induzido muitas pessoas a erro ao dizer
que atravessou toda a Grã-Bretanha a pé e dar à ilha a circunferência de
40 mil estádios (8 mil km) e contar sobre Thule, "essas regiões nas
quais não há mais propriamente terra, mar ou ar, mas uma espécie de
mistura dos três com a consistência de uma água-viva na qual não se pode
andar ou navegar".
Estrabão, na sua Geografia (30
d.C.), ao descrever o cálculo da circunferência da Terra por
Eratóstenes, nota que Píteas disse que Thule, "a mais setentrional das
Ilhas Britânicas" está a seis dias de navegação ao norte da
Grã-Bretanha, perto do mar congelado, sobre o Círculo Ártico. Mas também
escreve que Píteas era um mentiroso e as pessoas que viram a
Grã-Bretanha e a Irlanda não mencionam Thule, embora falem de outras
ilhas, menores, perto da Grã-Bretanha.
Em 77 d.C., Plínio, o Velho, ao
discutir as ilhas em torno da Grã-Bretanha, diz que a mais distante
conhecida é Thule, onde não há noites no meio do verão, nem dias no meio
do inverno. Do paralelo mais setentrional, o "paralelo dos Citas", diz
que passa pelos montes Rifeus e por Thule e que nessa latitude o dia
dura seis meses e a noite outros seis meses.
Orosius (384-420 A.D) e o monge
irlandês Dicuil (final do século VIII e início do IX), descreveram Thule
como estando a noroeste da Irlanda e Grã-Bretanha, além das Faroe, o
que parece sugerir a Islândia. O historiador Procopius, na primeira
metade do século VI, disse que Thule era uma grande ilha do Norte
habitada por 25 tribos, inclusive os Gautoi (provavelmente os godos, do
sul da atual Suécia) e os Scrithiphini (provavelmente os saami, ou
finlandeses) o que sugere a Escandinávia. Escreveu também que, quando os
hérulos retornaram, eles atravessaram o Varni (povo germânico do atual
Mecklenburg) e os Danes (dinamarqueses) e então cruzaram o mar rumo a
Thule, onde se estabeleceram ao lado dos godos.
Thule no ocultismo
No século XVIII, o astrônomo francês
Jean-Sylvain Bailly, considerando tábuas astronômicas indianas que ele
acreditava terem sido compiladas muito ao norte da Índia (paralelo 49º),
lendas zoroastristas segundo as quais os ancestrais dos iranianos
vinham do “pólo norte” e o mito grego dos hiperbóreos, concebeu uma
pré-história segundo a qual a Atlântida situara-se no extremo norte
quando o mundo era mais quente - no arquipélago norueguês de Spitzbergen
ou, talvez, na Groenlândia ou em Nova Zemlya.
Ainda não se ouvira falar da fissão
nuclear, dos processos de desintegração radioativa que, sabe-se hoje,
mantém quente o interior da Terra (e muito menos do processo de fusão do
hidrogênio que sustenta o calor do Sol). Os astrônomos pensavam que
nosso planeta havia esfriado continuamente a partir da bola de lava que
fora há não mais que algumas dezenas de milhares de anos. Segundo essa
ideia, o mundo devia ter sido bem mais quente há alguns milênios e,
dentro de alguns mais, estaria completamente congelado.
Por isso, especulou Bailly, à medida
que o clima esfriou, os atlantes se mudaram para a Sibéria, entre os
rios Obi e Yenisei e depois para o Altai, no paralelo 49 (onde hoje se
encontram as fronteiras da Rússia, China, Mongólia e Cazaquistão), a
partir do qual se espalharam para a Índia, a Pérsia e a Europa. Segundo
Bailly, "é coisa muito notável que o esclarecimento pareça ter vindo do
Norte, contra o preconceito comum que a terra foi esclarecida, como
também povoada a partir do Sul..." Tenta então mostrar que, de acordo
com todas as lendas e a sabedoria antiga, "quando a humanidade começou a
se reconstituir depois do Dilúvio de Noé, o mais puro fluxo de
civilização desceu do norte da Ásia para a Índia que hoje tem a
evidência de possuir o sistema astronômico mais antigo da Terra." Segue
afirmando que, na maioria das antigas mitologias, parece existir a
"memória racial" de uma "origem racial" no Norte distante e,
posteriormente, uma migração gradual para o Sul.
Sociedade de Thule
Da concepção de Bailly, parece ter
surgido a idéia de uma origem remota da humanidade e da civilização no
Norte - ou, mais especificamente, da "raça branca" ou "ariana",
identificada com "o mais puro fluxo de civilização" -, visto que os
indianos se consideravam descendentes dos "arianos", que alguns europeus
identificavam como os povos proto-indo-europeus de cujo idioma
hipotético descendiam a maioria das modernas línguas indianas e
europeias.
Na Alemanha, uma certa Sociedade de
Thule, fundada pelo ocultista maçom Rudolf von Sebottendorff (pseudônimo
de Adam Alfred Rudolf Glauer) em 18 de agosto de 1918 como seção local
da "Ordem Teutônica Walvater do Santo Graal". Esta era, por sua vez, uma
dissidência da "Ordem Teutônica" (Germanenorden) criada em 1912 por
ocultistas anti-semitas.
Era uma entre várias organizações e
filosofias ocultistas nordicistas e racistas, depois chamadas
genericamente de "ariosofias", que surgiram na Alemanha a partir de
1890, das quais as mais conhecidas foram o Arminismo de Guido "von" List
(que acreditava em runas, reencarnação e panteísmo) e a Teozoologia de
Jörg Lanz von Liebenfels, segundo o qual a "raça ariana" havia se
originado de um desaparecido continente nórdico chamado Arctogéia
(Arktogäa, no original), ideia que também foi adotada por List. Segundo
Joscelyn Godwin, Von Sebottendorff havia definido o objetivo da
Germanenorden como criar uma comunidade espiritual chamada Halgadom, que
abarcaria "todos os herdeiros da antiga Thule", da Espanha à Rússia.
A a ordem Walvater ("Pai de Todos",
um dos nomes de Wotan ou Odin), parece ter retomado a noção de uma
Atlântida ártica, hiperbórea, como origem da “raça ariana”. Como René
Guénon - que também via no extremo norte um símbolo de espiritualidade
-, Von Sebottendorff era admirador do sufismo e da astrologia.
A sociedade de Thule manteve
relações com Alfred Rosenberg, Rudolf Hess, Julius Streicher e Dietrich
Eckart – alguns dos principais ideólogos do movimento nazista - ou pelo
menos os hospedou. O jornalista Karl Harrer, que foi seu membro,
tornou-se também um dos fundadores do partido nazista e seu presidente.
Foi o dentista Friedrich Krohn, membro da Sociedade de Thule, que
escolheu a suástica como símbolo do partido nazista.
Entretanto, Adolf Hitler, que entrou
no partido nazista logo após sua fundação, tomou a liderança a Harrer
em 1920 e cortou os laços com a Sociedade de Thule. Em 1923, Von
Sebottendorff foi expulso da Alemanha e a Sociedade que fundara foi
dissolvida em 1925.
Em 1933, Von Sebottendorf retornou e
escreveu um livro chamado Antes que Hitler Viesse (Bevor Hitler kam),
no qual afirmava que sua Sociedade teria aberto o caminho para Hitler:
"Foi aos membros da Sociedade de Thule que Hitler veio primeiro e foram
eles os primeiros a se unir a Hitler".
Em março de 1934 o livro foi
proibido. O autor foi preso em um campo de concentração e depois exilado
na Turquia, onde se suicidou após a derrota dos nazistas. A partir de
1935, com uma lei "anti-maçônica", os nazistas também puseram fora da
lei todas as organizações esotéricas.
A suposta Thule do nazismo
A maior parte do que se diz sobre as
ideias dos nazistas históricos sobre Thule baseia-se em boatos. Alguns
nazistas possivelmente acreditaram nelas ou em ideias mais ou menos
análogas, mas nada indica que Adolf Hitler tivesse um interesse real no
assunto, ou qualquer interesse no ocultismo além do que pudesse servir
como propaganda anti-semita. Permitia ao chefe da SS, Henrich Himmler
devotar recursos não desprezíveis a essa pesquisa, mas zombava de suas
obsessões ocultistas e as continha sempre que suas idéias neopagãs
pudessem causar conflito com os militantes e simpatizantes do nazismo
mais conservadores ou com as igrejas cristãs.
Ainda assim, essas especulações
tornaram-se um mito em si mesmas, principalmente depois da publicação de
O Despertar dos Mágicos, de 1960. Segundo o livro, o general e ideólogo
nazista Karl Haushofer teria acreditado que quando Thule (ou Hiperbórea) tornou-se inabitável, os arianos migraram para o sul.
Um grupo foi para a Atlântida, onde
se misturou com os lemurianos, que também haviam migrado para lá. Os
descendentes desses arianos impuros voltaram-se para a magia negra e a
conquista.
O outro ramo passou pela América do
Norte e pelo norte da Eurásia e fixou-se no atual deserto de Gobi, onde
fundaram Agarthi. Segundo Jean-Claude Frère, que em 1974 publicou
Nazisme et sociétés Secrètes, sobre o mesmo tema, a Sociedade de Thule
identificava Agarthi com a Asgard da mitologia nórdica.
Depois de um cataclismo mundial, os
arianos de Agarthi novamente dividiram-se em dois grupos. Um foi para o
sul e fundou um centro secreto de saber sob o Himalaia, também chamado
Agarthi, onde preservaram os ensinamentos da virtude e do vril. O outro
grupo tentou retornar a Thule ou Hiperbórea, mas em vez disso fundou
Shambhala, uma cidade de violência, maldade e materialismo. Agarthi
seria a detentora do caminho da mão direita e do vril positivo, enquanto
Shambhala guardaria o caminho da mão esquerda e da energia negativa. Os
nazistas teriam buscado ajuda em ambas essas civilizações (para mais
detalhes, veja Agartha).
Este cenário parece basear-se em
grande parte nas idéias do nazista holandês Herman Wirth (1885-1981),
que de 1935 a 1937 dirigiu a "Sociedade de Estudos da Ciência
Intelectual Primordial da Herança Ancestral Alemã" (Studiengesellschaft
für Geistesurgeschichte‚ Deutsches Ahnenerbe), grupo de estudos nazista
sobre história antiga, de cuja fundação também participaram Himmler e o
ministro da Agricultura Richard Walther Darré.
Em A Origem da Humanidade (Der
Aufgang der Menschheit, 1928), Wirth escreveu que uma terra desaparecida
no Ártico havia sido a pátria original da "raça nórdica-atlante"
primordial e que, com seu congelamento, seu povo teria migrado para a
Atlântida. Com o posterior afundamento dessa terra, seu povo teria
emigrado para a América do Norte e a Europa. Para mais detalhes, leia
Atland, nome dado à Atlântida no suposto manuscrito frísio medieval no
qual se apoiavam as teses de Wirth.
Em 1937, o arqueólogo alemão Edmund
Kiss publicou o livro A Porta do Sol de Tiahuanaco e a Doutrina do Gelo
Universal de Hörbiger, no qual escreveu que as ruínas de Tiahuanaco
foram fundadas por habitantes de Thule há mais de 17 mil anos, conforme a
especulação do engenheiro peruano Arthur Posnansky em 1911. Além disso,
Kiss relacionou essa tese com a doutrina de Hörbiger (leia mais em
Cosmogonia Glacial). Himmler planejou enviar Kiss de volta a Tihuanaco
com uma equipe de pesquisadores da Ahnenerbe, mas a expedição foi
cancelada pela irrupção da II Guerra Mundial.
Guénon
Em o O Rei do Mundo (Le Roi du
Monde, de 1927), o ocultista francês René Guénon expressou a crença na
existência literal de Thule como centro original da civilização humana,
representada como um "Eixo do Mundo", uma "montanha sagrada":
Quase toda tradição tem seu nome
para essa montanha, tal como o Meru hindu, o Alborj persa e o Montsalvat
da lenda ocidental do Graal. Há também a montanha árabe Qaf e a grega
Olimpo, que em muitos aspectos tem o mesmo significado. Consiste de uma
região que, como o Paraíso Terrestre, tornou-se inacessível à humanidade
ordinária e que está além do alcance dos cataclismos que perturbam o
mundo humano ao final de certos períodos cíclicos. Essa região é o
autêntico "país supremo" que, de acordo com certos textos védicos e
avésticos, estava originalmente situada no Pólo Norte, até mesmo no
sentido literal da palavra. Embora possa mudar sua localização de acordo
com as diferentes fases da história humana, ele continua a ser polar em
um sentido simbólico porque essencialmente representa o eixo fixo em
torno do qual tudo gira.
Segundo Guénon, os textos védicos
chamam o país supremo de Paradesha, ou "Coração do Mundo". Seria a
palavra da qual os caldeus formaram Pardes e os ocidentais, Paraíso. Há
ainda outro nome, que seria ainda mais antigo: Tula, chamada pelos
gregos Thule. Comum a regiões da Rússia à América Central, Tula
representaria o estado primordial do qual o poder espiritual emanou.
Ainda segundo Guénon, a Tula
mexicana deve sua origem aos Toltecas que vieram, segundo se diz, de
Aztlán, a "terra no meio da água", que é "evidentemente" a Atlântida.
Trouxeram o nome de Tula de seu país de origem e o eram a um centro que
conseqüentemente precisaria substituir, até certo ponto, o do continente
perdido. Por outro lado, a Tula atlante precisa ser distinguida da Tula
hiperbórea e a última representa o centro primeiro e supremo.
É preciso assinalar aqui que, na
verdade, a lenda da origem em Aztlán não é do povo historicamente
conhecido como tolteca e sim dos astecas, nome que lhes foi dado por
historiadores precisamente em função dessa lenda e os astecas fundaram
sua cidade em 1325, muito depois da queda dos toltecas, cujo império foi
destruído por chichimecas no século XII. Aztlán era representada pelos
astecas como uma ilha dentro de um lago continental e eles datavam o
início de sua migração de 1064 d.C.
A capital dos toltecas se chamou
Tula, ou mais precisamente Tollán - "lugar das taboas", em náhuatl, com o
sentido figurado de lugar onde as pessoas estão apinhadas como juncos.
Mas os toltecas também não tinham a antiguidade que Guénon e Helena
Blavatsky lhes atribuía, iludidos pelas crenças dos astecas, que
atribuíam todas as construções anteriores a seu tempo aos mesmos
"toltecas" (palavra que significa "construtor"). Sua civilização surgiu
no século X, muito depois de outras civilizações mexicanas, como a dos
olmecas e de Teotihuacán.
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