Em 1995, eu era um estagiário recém-contratado nos Estúdios
de Animação da Nickelodeon. Tive a chance de trabalhar especialmente ao lado de
Joe Murray, que foi o criador de um dos meus desenhos favoritos, A Vida Moderna
de Rocko. Quando fiquei sabendo que eu assistiria os novos episódios antes que
eles fossem ao ar, é claro que eu fiquei em êxtase. Ele conversou comigo sobre
os planos para os próximos episódios da série, e me mostrou alguns esboços
iniciais dos personagens que as crianças daquela época (incluindo eu, e
certamente alguns pais) haviam vindo a conhecer e amar.
Os primeiros episódios exibidos eram ótimos, e eu sempre me
gabava para os meus amigos, que também eram fãs da série. Mas um dia, as coisas
pareciam um pouco fora do comum. Joe parecia exausto e rapidamente me entregou
uma fita antes de ir para casa, alegando que estava doente. Curioso para ver o
episódio que me aguardava, rapidamente coloquei a fita no videocassete, imaginando
as confusões que Rocko e seus amigos iriam se meter desta vez. Mas quando o cartão
de título apareceu, fiquei chocado, para dizer o mínimo. O cartão dizia "O
Funeral de Felizberto", e havia uma imagem de Rocko e Vacão
ajoelhados sobre o casco da amável e desastrada tartaruga. Sua casca tinha
vários arranhões, e estava manchada de lama.
O episódio em si começou com Rocko sentado no sofá de sua
sala, que estava estranhamente bagunçada e cheia de moscas. Spunky, seu
cachorro, foi caminhando lentamente pela sala, parecendo muito mais magro do
que o normal, latindo fracamente para Rocko. Não havia nenhum som, e ao invés das
cores habituais e alegres, havia cores escuras excessivamente vivas espalhadas
pela tela, dando um olhar mórbido e caótico ao cenário. O silêncio continuou
até o episódio chegar a cerca de um minuto de duração, mas foi quebrado quando
o telefone tocou.
"Olá?" Rocko perguntou em sua voz irritantemente
monótona.
O som suave de uma outra voz pode ser ouvida na outra linha,
e por um único quadro, uma imagem apareceu, mas desapareceu antes que eu
pudesse dar uma boa olhada.
"Sim, eu entendi. Terça-feira as 15:00, certo",
disse ele no mesmo tom antes de desligar o telefone. A câmera deu um zoom em
seu rosto, mostrando detalhes perturbadores, e em seguida silenciosamente diz "Felizberto",
antes de começar a chorar.
Rocko começou a gritar o nome Felizberto, seu tom de voz
ficando cada vez mais alto com cada grito. Vacão entra na casa em seguida, com
sua atitude normal e feliz.
"Hey, Rocko. O que-" Sua fala terminou de forma
abrupta, e ele ficou olhando em silêncio para o rosto de Rocko por cerca de 30
segundos, e em seguida, diretamente para a câmera pelos próximos 30 segundos.
Rocko então friamente diz: " Felizberto morreu".
Vacão começa a ficar histérico, mas não de sua maneira comum
e cartunistica. Ele parecia genuinamente triste, e ver isso estava me
machucando ver isso; ver meus amados personagens favoritos naquela situação
horrível.
A tela então ficou escura, e logo cortou para o interior de
uma casa funerária. Todos os personagens estavam lá dentro, soluçando, os sons
de todos eles enchendo a pequena sala. A câmera se aproxima para o rosto de Felizberto,
morto e deitado dentro de um caixão azul com velas espalhadas em volta, e permanece
assim durante o resto do vídeo.
Depois de ver isso, sentei-me em estado de choque por um
momento antes de começar a me sentir mal, mentalmente e
psicologicamente. Pelo que entendi, esse era para ser o episódio final
da série, algo parecido com o que deveria ter acontecido com o final
de Invasor Zim. Felizmente,
este episódio acabou nunca indo ao ar, mas ainda assombra os meus sonhos
até
hoje.
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