terça-feira, 22 de dezembro de 2015

FREYR E A GIGANTE GERD









A estória de Freyr, Gerd e Skirnir é contada na sua versão integral no poema da Eáda, Skírnismal. Snorri Sturluson reconta-o de uma forma mais curta e mais romanceada
em Gylfaginning. A história começa em Asgard. Freyr, deus da riqueza e da fertilidade, encontra-se sentado
em Hlidskialf, a casa de Ódin, de onde tem uma
vista sobre todos os mundos do universo. Ao olhar
para baixo, para o mundo dos gigantes, ele viu
Gerd, uma bela gigante, no pátio da casa do pai
e apaixonou-se por ela de imediato. Ficou lânguido.
O servo de Freyr - Skirnir - foi-lhe
perguntar o que o perturbava. Ele explicou,
mas sentia que a sua paixão estava
condenada a não ser correspondida. Skirnir ofereceu-se para ir até à Terra dos Gigantes
e fazer a corte a Gerd em nome dele. Pediu emprestado a espada mágica de Freyr
e o cavalo e, após transpor montanhas
e um anel de fogo à volta da Terra
dos Gigantes, chegou à casa de Gerd, mas
deu com a entrada barrada por cães de guarda. Gerd, porém, decidiu recebê-lo nos seus aposentos.
Skirnir comunicou-lhe o amor que Freyr sentia por ela e ofereceu-lhe, como estímulo, maçãs douradas e Draupnir um anel de ouro que por magia se produziu a si mesmo, mas Gerd tinha imenso ouro e rejeitou com desdém estes presentes. Depois Skirnir ameaçou-a de morte com
a espada de Freyr (e ao pai gigante,
Gymir, se ele tentasse intervir),
mas Gerd continuou a resistir. Skirnir
descreveu com a minúcia de um gráfico
as conseqüências de uma praga que
ele iria lançar sobre ela, se persistisse
na rejeição do generoso amor que Freyr
lhe oferecia.
A maldição seria gravada em
runas em uma «varinha de condão domesticadora», condenando Gerd
a uma verdadeira morte em vida na Terra dos Gigantes. Skirnir descreveu-lhe
a vida que iria ter sob a maldição, como uma imitação burlesca daquela de que poderia desfrutar na companhia
dos deuses se aceitasse a mão de Freyr. Iria viver no limbo do seu mundo, como acontecia com Heimdall, o vigilante
dos deuses em Asgard; mas enquanto que ele guardava o seu mundo contra
os ataques, Gerd seria apenas uma prisioneira, olhando para tudo e ansiando pela fuga, que só a morte
lhe podia trazer. Teria como única bebida a urina das cabras, uma prescrição suficientemente severa mas tornada ainda mais pungente pela informação de que os deuses extraíam um excelente hidromel do úbere da cabra Heidrun, que se apascentava das folhas
da árvore do mundo. Gerd seria olhada pelos outros, neste mundo de pesadelo, como uma aberração e, se decidisse casar-se, o melhor par com que poderia contar era um gigante de três cabeças chamado Hrimgrimnir.
Os seus dias arrastar-se-iam de forma penosa e seria constantemente perseguida pelos trolls que seriam
a sua única companhia. As lágrimas passariam
a ser permanentes e o desejo atacá-la-ia com uma força incontrolável.
Gerd só cedeu quando Skirnir começou a gravar as runas, o que tornaria esta visão aterradora em realidade. Ela concordou em encontrar-se com Freyr durante nove noites a partir de então, em Barri, um local descrito como «sepultura calma». Skirnir regressou
com as novidades para Freyr e o poema termina com o deus a queixar-se do prazo imposto por Gerd à união. São possíveis diferentes interpretações desta estória, mas talvez a mais correta seja uma leitura simbólica, como um mito sobre
a fertilidade agrícola. Assim, Freyr, geralmente considerado na mitologia como um deus da fecundidade, representa o Sol; Gerd é a terra não fertilizada; e Skirnir, o intermediário, cujo nome significa «o brilhante», e representa os raios de Sol que fazem com que os cereais germinem.

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