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quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Família Buckley





Essa é a família Buckley. Os nomes das crianças eram Susan e John. Como uma brincadeira de Halloween, todas crianças da vizinhança iam pegar um manequim e fingir que iam arrancar sua cabeça. Os jovens Buckley pensaram que seria mais divertido se realmente viessem a matar sua mãe, então quando as crianças andassem até a porta deles, eles tinham um machado e abateriam-na. Uma vez que todos perceberam o que eles tinham realmente feito, foi chamada a polícia, mas as crianças já tinham sumido então. A única foto deles foi essa, tirada como travessura. O corpo da mãe foi encontrada depois comida pela metade.


domingo, 16 de março de 2014

A Santa - Gabriel García Márquez



A Santa

Vinte e dois anos depois, tornei a ver Margarito Duarte. Apareceu de repente numa das ruazinhas secretas do Trastevere, e tive trabalho em reconhecê–lo à primeira vista por seu castelhano difícil e seu jeito ameno de romano antigo. Tinha o cabelo branco e escasso, e não restavam nele rastros da conduta lúgubre e das roupas funerárias de advogado andino com que havia vindo a Roma pela primeira vez, mas no curso da conversa fui resgatando–o pouco a pouco das perfídias dos anos e tornei a vê–lo como era: sigiloso, imprevisível, e de uma tenacidade de quebrador de pedra.
Antes da segunda xícara de café num dos nossos bares de outros tempos, me atrevi a fazer–lhe a pergunta que me carcomia por dentro.
– O que aconteceu com a santa?
– Lá está a santa – respondeu. – Esperando.
Só o tenor Rafael Ribero Silva e eu podíamos entender a tremenda carga humana de sua resposta. Conhecíamos tanto seu drama que durante anos pensei que Margarito Duarte era o personagem em busca de autor que nós, romancistas, esperamos durante uma vida inteira, e se nunca deixei que me encontrasse foi porque o final de sua história me parecia inimaginável.
Tinha vindo a Roma naquela primavera radiante em que Pio XII padecia uma crise de soluço que nem as boas nem as más artes de médicos e feiticeiros haviam conseguido remediar. Saía pela primeira vez de sua escarpada aldeia do Tolima, nos Andes colombianos, e dava para notar isso até no seu jeito de dormir. Apresentou–se certa manhã em nosso consulado com a maleta de pinho polido que pela forma e o tamanho parecia o estojo de um violoncelo, e expôs ao cônsul o motivo surpreendente de sua viagem.
O cônsul chamou então por telefone o tenor Rafael Ribero Silva, seu compatriota, para que conseguisse para ele um quarto na pensão onde nós dois morávamos. Foi assim que o conheci.
Margarito Duarte não havia passado da escola primária, mas sua vocação pelas belas–artes havia permitido uma formação mais ampla com a leitura apaixonada de tudo que era material impresso que encontrava ao seu alcance. Aos dezoito anos, sendo o escrivão do município, casou–se com uma bela moça que morreu pouco depois no parto de sua primeira filha. Esta, ainda mais bela que a mãe, morreu de uma febre essencial aos sete anos. Mas a verdadeira história de Margarito Duarte havia começado seis meses antes de sua chegada a Roma, quando foi preciso mudar o cemitério de sua aldeia para construir uma represa. Como todos os habitantes da região, Margarito desenterrou os ossos de seus mortos para levá–los ao cemitério novo. A esposa era pó. Na tumba contígua, porém, a menina continuava intacta depois de onze anos. Tanto que quando destamparam o caixão sentiu–se o hálito das rosas frescas com que a haviam enterrado. O mais assombroso, no entanto, é que o corpo carecia de peso.
Centenas de curiosos atraídos pelo clamor do milagre lotaram a aldeia. Não havia dúvida. A incorruptibilidade do corpo era um sintoma inequívoco da santidade, e até o bispo da diocese concordou que semelhante prodígio deveria ser submetido ao veredicto do Vaticano. Assim, foi feita uma coleta pública para que Margarito Duarte viajasse a Roma, para batalhar por uma causa que já não era apenas dele ou do âmbito estreito da aldeia, mas um assunto nacional.
Enquanto nos contava sua história na pensão do agradável bairro de Panou, Margarito Duarte tirou o cadeado e abriu a tampa do baú primoroso. Foi assim que o tenor Ribero Silva e eu participamos do milagre. Não parecia uma múmia murcha como as que a gente vê em tantos museus do mundo, mas uma menina vestida de noiva que continuava dormindo ao cabo de uma longa estada debaixo da terra. A pele era polida e morna, e os olhos abertos eram diáfanos, e causavam a impressão insuportável de que nos viam da morte. A tule e os jasmins falsos da coroa não haviam resistido ao rigor do tempo com tão boa saúde como a pele, mas as rosas que haviam sido postas em suas mãos permaneciam vivas.
O peso do estojo de pinho, na verdade, continuou sendo o mesmo quando tiramos o corpo.
Margarito Duarte começou suas gestões no dia seguinte ao da chegada. No começo com uma ajuda diplomática mais compassiva que eficaz, e depois com todas as artimanhas que lhe ocorreram para superar os incontáveis obstáculos do Vaticano. Foi sempre muito reservado sobre suas diligências, mas sabia–se que eram numerosas e inúteis. Fazia contatos com todas as congregações religiosas e fundações humanitárias que encontrava pelo caminho, onde o escutavam com atenção mas sem assombro, e lhe prometiam gestões imediatas que nunca davam em nada. A verdade é que a época não era a mais propícia. Tudo que tivesse a ver com a Santa Sé havia sido adiado até que o papa superasse a crise de soluços, resistente não apenas aos mais refinados recursos da medicina acadêmica, mas a todo tipo de remédios mágicos que lhe mandavam do mundo inteiro. Finalmente, no mês de julho, Pio XII recuperou–se e foi para as suas férias de verão em Castelgandolfo.
Margarito levou a santa à primeira audiência semanal com a esperança de mostrá–la. O papa apareceu no pátio interior, num balcão tão baixo que Margarito pôde ver suas unhas bem polidas e chegou a sentir seu hálito de lavanda. Mas não circulou entre os turistas que chegavam do mundo inteiro para vê–lo, como Margarito esperava, e pronunciou o mesmo discurso em seis idiomas e terminou com a bênção geral.
Após tantos adiamentos, Margarito decidiu enfrentar as coisas em pessoa, e levou à Secretaria de Estado uma carta manuscrita de quase sessenta folhas, para a qual não obteve resposta. Ele havia previsto isso, pois o funcionário que recebeu a carta com os formalismos de praxe limitou–se a dar uma olhada oficial na menina morta, e os empregados que passavam por perto a olhavam sem nenhum interesse.
Um deles contou–lhe que no ano anterior haviam recebido mais de oitocentas cartas que solicitavam a santificação de cadáveres intactos em vários lugares do mundo. Margarito pediu enfim que se comprovasse a falta de gravidade do corpo. O funcionário a comprovou, mas negou–se a admitir.
– Deve ser um caso de sugestão coletiva disse. Em suas escassas horas livres e em seus áridos domingos de verão, Margarito permanecia em seu quarto, obstinado na leitura de qualquer livro que pudesse ter interesse para a sua causa. No fim de cada mês, por iniciativa própria, escrevia num caderno escolar uma relação minuciosa de seus gastos com sua caligrafia preciosista de amanuense–mor, para prestar contas rígidas e oportunas aos contribuintes de sua aldeia. Antes de terminar o ano conhecia os dédalos de Roma como se tivesse nascido neles, falava um italiano fácil e de tão poucas palavras quanto seu castelhano andino, e sabia tanto ou mais que qualquer um sobre processos de canonização. Mas passou muito mais tempo antes que mudasse seu traje fúnebre, e o colete e o chapéu de magistrado que na Roma da época eram próprios de algumas sociedades secretas de fins inconfessáveis. Saía logo cedo com o estojo da santa, e às vezes regressava tarde da noite, exausto e triste, mas sempre com um rescaldo de luz que infundia nele novos ânimos para o dia seguinte.
– Os santos vivem em seu próprio tempo dizia.
Eu estava em Roma pela primeira vez, estudando no Centro Experimental de Cinema, e vivi seu calvário com uma intensidade inesquecível. A pensão onde morávamos era na realidade um apartamento moderno a poucos passos da Villa Borghese, cuja dona ocupava dois quartos e alugava quatro a estudantes estrangeiros. Nós a chamávamos de Maria Bela, e era bonita e temperamental na plenitude de seu outono, e sempre fiel à norma sagrada de que cada um é rei absoluto dentro de seu quarto. Na verdade, quem levava o peso da vida cotidiana era sua irmã mais velha, a tia Antonieta, um anjo sem asas que trabalhava horas a fio durante o dia, e andava por todos os lados com seu balde e sua vassoura de enxergão lustrando além do possível os mármores do piso. Foi ela quem nos ensinou a comer os passarinhos cantores que Bartolino, seu esposo, caçava por um mau hábito que lhe restou da guerra, e quem terminaria levando Margarito a morar em sua casa quando os recursos não deram mais para os preços de Maria Bela. Nada menos adequado para o modo de ser de Margarito que aquela casa sem lei. Cada hora nos reservava alguma novidade, até na madrugada, quando nos despertava o rugido pavoroso do leão no zoológico da Villa Borghese. O tenor Ribero Silva havia conquistado o privilégio de que os romanos não se ressentissem de seus ensaios madrugadores.
Levantava–se às seis, tomava um banho medicinal de água gelada e ajeitava a barba e as sobrancelhas de Mefistófeles, e só quando já estava pronto com o roupão escocês, o cachecol de seda chinesa e sua água–de–colônia pessoal, entregava–se de corpo e alma aos seus exercícios de canto. Abria de par em par as janelas do quarto, ainda com as estrelas do inverno, e começava a aquecer a voz com fraseados progressivos de grandes árias de amor, até que se soltava e cantava a toda. A expectativa diária era quando dava o dó–de–peito e o leão da Villa Borghese respondia com um rugido de tremor de terra.
– Você é São Marcos reencarnado, figlio mio – exclamava tia Antonieta, assombrada de verdade.
– Só ele podia falar com os leões.
Certa manhã, não foi o leão quem replicou. O tenor iniciou o dueto de amor do Otello: Già nella notte densa s'estingue ogni clamor. De repente, do fundo do pátio, nos chegou a resposta numa bela voz de soprano. O tenor prosseguiu, e as duas vozes cantaram a parte completa, para o prazer da vizinhança que abriu as janelas para santificar suas casas com a torrente daquele amor irresistível.
O tenor quase desmaiou quando soube que sua Desdêmona invisível era nada menos que a grande Maria Caniglia.
Tenho a impressão de que foi aquele episódio que deu um motivo válido a Argarito Duarte para integrar–se na vida da casa. A partir de então sentou–se com todos à mesa comum e não na cozinha, como no princípio, onde a tia Antonieta o alegrava quase que todos os dias com seu ensopado magistral de passarinhos cantores. Maria Bela lia para nós, na sobremesa, os jornais do dia, para acostumar–nos à fonética italiana, e completava as notícias com uma arbitrariedade e uma graça que alegravam nossas vidas. Num daqueles dias nos contou, a propósito da santa, que na cidade de Palermo havia um enorme museu com os cadáveres incorruptos de homens, mulheres e crianças, e inclusive de vários bispos, desenterrados de um mesmo cemitério dos padres capuchinhos.
A notícia inquietou tanto Margarito que não teve um só instante de paz até que fomos a Palermo. Mas bastou–lhe dar uma olhada rápida pelas abrumadoras galerias de múmias sem glória para formar um julgamento de consolo.
– Não são o mesmo caso – disse ele. – A gente nota em seguida que estes estão mortos.Depois do almoço, Roma sucumbia no torpor de agosto. O sol de meio–dia ficava imóvel no centro do céu, e no silêncio das duas da tarde só se ouvia o rumor da água, que é a voz natural de Roma. Mas lá pelas sete da noite as janelas se abriam de repente para convocar o ar fresco que começava a se mover, e uma multidão jubilosa atirava–se nas ruas sem nenhum propósito além de viver, no meio dos petardos das motocicletas, dos gritos dos vendedores de melancia e das canções de amor entre as flores dos terraços.
O tenor e eu não fazíamos a sesta. Íamos em sua vespa, ele conduzindo e eu na garupa, e levávamos sorvetes e chocolates para as putinhas de verão que borboleteavam debaixo dos louros centenários da Villa Borghese, em busca de turistas desvelados em pleno sol. Eram belas, pobres e carinhosas, como a maioria das italianas daquele tempo, vestidas de organdi azul, de popelina rosada, de linho verde, e se protegiam do sol com as sombrinhas baleadas pelas chuvas da guerra recente.
Era um prazer humano estar com elas, porque saltavam por cima das leis do ofício e se davam o luxo de perder um bom cliente para ir conosco tomar um café com muita conversa no bar da esquina, ou passear nas charretes de aluguel pelas trilhas do parque, ou a doer conosco por causa dos reis destronados e suas amantes trágicas que cavalgavam ao entardecer no galoppatoio. Mais de uma vez servíamos de intérpretes entre elas e algum gringo descarrilado.
Não foi por causa delas que levamos Margarito Duarte à Villa Borghese, mas para que conhecesse o leão. Vivia em liberdade numa ilhota desértica circundada por um fosso profundo, e assim que nos viu na outra margem começou a rugir com um desassossego que surpreendeu o guarda. Os visitantes do parque foram ver, surpresos. O tenor tentou se identificar com seu dó–de–peito matinal, mas o leão não prestou atenção. Parecia rugir a todos nós sem diferença, mas o vigilante percebeu no ato que ele rugia só para Margarito. E era: para onde ele se movia, movia–se o leão, e no momento em que se escondia, o leão parava de rugir. O vigilante, que era doutor em letras clássicas pela universidade de Siena, pensou que Margarito devia ter estado naqueles dias com outros leões que o contaminaram com seu cheiro. Além dessa explicação, que não valia, não encontrou outra.
– Seja como for – afirmou –, não são rugidos de guerra, são de compaixão.
No entanto, o que impressionou o tenor Ribero Silva não foi aquele episódio sobrenatural, mas a comoção de Margarito quando pararam para conversar com as moças do parque. Comentou isso na mesa, e uns por malícia, outros por compreensão, concordamos que seria uma boa obra ajudar Margarito a resolver sua solidão. Comovida pela debilidade de nossos corações, Maria Bela apertou a peitaria de mãe bíblica com suas mãos empedradas de anéis de bijuteria.
– Eu faria isso por caridade – disse –, se não fosse pelo fato de jamais ter conseguido com homens que usam colete.
Assim, o tenor passou pela Villa Borghese às duas da tarde e levou nas ancas de sua vespa a borboletinha que lhe pareceu a mais propícia para dar uma hora de boa companhia a Margarito Duarte. Fez com que ela se despisse em seu próprio quarto, banhou–a com sabonete de cheiro, perfumou–a com sua água–de–colônia pessoal, e polvilhou–a de corpo inteiro com seu talco alcanforado de pós–barba. No fim, pagou a ela o tempo que tinha passado e mais uma hora, e indicou–lhe, letra por letra, o que deveria fazer.
A bela despida atravessou na ponta dos pés a casa em penumbra, como um sonho de sesta, e deu duas batidinhas ternas na porta do fundo. Margarito Duarte, descalço e sem camisa, abriu a porta.
– Buona sera giovanotto – disse ela, com voz e modos de colegial. – Mi manda il tenore.
Margarito assimilou o golpe com grande dignidade. Terminou de abrir a porta para dar passagem, e ela estendeu–se na cama enquanto ele vestia, a toda pressa, a camisa e os sapatos, para atendê–la com o devido respeito. Depois sentou–se ao seu lado numa cadeira, e começou a conversar.
Surpresa, a moça disse–lhe que andasse depressa, pois só dispunham de uma hora. Ele fez que não entendeu. A moça disse depois que de qualquer maneira teria ficado o tempo que ele quisesse, sem cobrar nenhum centavo, porque não podia haver no mundo homem mais bem comportado. Sem saber o que fazer enquanto isso, examinou o quarto com os olhos e descobriu o estojo de madeira junto da lareira. Perguntou se era um saxofone. Margarito não respondeu, apenas entreabriu a persiana para que entrasse um pouco de luz, levou o estojo até a cama e levantou a tampa. A moça tentou dizer alguma coisa, mas ficou com a mandíbula deslocada. Ou como conforme nos disse depois: Mi si gelô ii culo. Escapou apavorada, mas enganou–se de direção no corredor, e encontrou–se com a tia Antonieta, que ia colocar uma lâmpada nova no meu quarto. Foi tamanho o susto das duas que a moça não se atreveu a sair do quarto do tenor até alta noite.
Tia Antonieta nunca soube o que aconteceu. Entrou no meu quarto tão assustada que não conseguia enroscar a lâmpada, por causa do tremor nas mãos. Perguntei a ela o que estava acontecendo. “É que nesta casa tem assombração”, respondeu. “E agora, em pleno dia”, contou com uma grande convicção que, durante a guerra, um oficial alemão degolou sua amante no quarto que o tenor ocupava. Muitas vezes, enquanto andava em suas tarefas, a tia Antonieta havia visto a aparição da bela assassinada percorrendo seus passos pelos corredores.
– Acabo de vê–la pelada caminhando pelo corredor – disse ela. – Era idêntica.
A cidade recobrou sua rotina no outono. Os terraços floridos do verão fecharam–se com os primeiros ventos, e o tenor e eu tornamos à velha trattoria do Trastevere, onde costumávamos jantar com os alunos de canto do conde Cano Calcagni, e alguns colegas meus da escola de cinema. Entre estes últimos, o mais assíduo era Lakis, um grego inteligente e simpático, cujo único tropeço eram seus discursos adormecedores sobre a injustiça social. Por sorte, os tenores e as sopranos conseguiam quase sempre derrotá–lo com trechos de ópera cantados aos berros, que ainda assim não incomodavam ninguém, mesmo depois da meia–noite. Ao contrário, alguns dos notívagos somavam–se ao coro, e na vizinhança janelas eram abertas para aplaudir.
Uma noite, enquanto cantávamos, Margarito entrou na ponta dos pés para não nos interromper. Carregava o estojo de pinho que não havia tido tempo de deixar na pensão depois de mostrar a santa ao pároco de San Juan de Letrán, cuja influência perante a Sagrada Congregação do Ritual era de domínio público. Cheguei a ver de soslaio que deixou–o debaixo de uma mesa afastada, e sentou–se enquanto terminávamos de cantar. Como ocorria sempre por volta da meia–noite, reunimos várias mesas quando a trattoria começou a esvaziar, e ficamos juntos, os que cantavam, os que falávamos de cinema, e os amigos de todos. E entre eles, Margarito Duarte, que já era conhecido ali como o colombiano silencioso e triste e do qual ninguém sabia nada. Lakis, intrigado, perguntou a ele se tocava violoncelo. Eu me encolhi com o que me pareceu uma indiscrição difícil de ser contornada.
O tenor, tão incômodo quanto eu, não conseguiu remediar a situação. Margarito foi o único que encarou a pergunta com toda naturalidade.
– Não é um violoncelo – disse. – É uma santa.
Pôs a caixa sobre a mesa, abriu o cadeado e levantou a tampa. Uma rajada de estupor estremeceu o restaurante. Os outros clientes, os garçons, e finalmente o pessoal da cozinha, com seus aventais ensanguentados, congregaram–se atônitos para contemplar o prodígio. Alguns se persignaram Uma das cozinheiras ajoelhou–se com as mãos unidas, presa de um tremor de febre, e rezou em silêncio. No entanto, passada a comoção inicial, nos enrolamos numa discussão aos gritos sobre a insuficiência da santidade em nossos tempos. Lakis, é claro, foi o mais radical. A única coisa que ficou clara foi sua idéia de fazer um filme crítico com o tema da santa.
– Tenho certeza – disse – que o velho Cesare não deixaria esse tema escapar.
Referia–se a Cesare Zavattini, nosso mestre de argumento e roteiro, um dos grandes da história do cinema e o único que mantinha conosco uma relação pessoal à margem da escola. Tentava ensinar–nos não apenas o ofício, mas uma maneira diferente de ver a vida. Era uma máquina de pensar argumentos. Saltavam aos borbotões, quase contra a sua vontade. E com tanta pressa que sempre fazia falta a ajuda de alguém para pensá–los em voz alta e agarrá–los em pleno vôo. Só que, ao terminá–los, seu ânimo despencava. "É uma pena que tenha de ser filmado", dizia. Pois achava que na tela perderia muito de sua magia original. Conservava as idéias em fichas organizadas por temas e presas com alfinetes nas paredes, e tinha tantas que ocupavam um quarto de sua casa.
No sábado seguinte, levamos Margarito Duarte para vê–lo. Era tão guloso de vida que o encontramos na porta de sua casa da rua Angela Merici, ardendo de ansiedade pela idéia que havíamos anunciado por telefone. Nem nos cumprimentou com a amabilidade habitual, mas levou Margarito até uma mesa preparada, ele mesmo abriu o estojo. Então aconteceu o que menos imaginávamos.
Em vez de enlouquecer, como era previsível, sofreu uma espécie de paralisia mental.
– Ammazza! – murmurou espantado.
Olhou a santa em silêncio por dois ou três minutos, fechou, ele mesmo, a caixa, e sem dizer nada levou Margarito até a porta, como um menino que desse os seus primeiros passos. Despediu–se dele com uns tapinhas nas costas. "Obrigado, filho, muito obrigado", disse a ele. "E que Deus te acompanhe em sua luta". Quando fechou a porta virou–se para nós, e deu seu veredicto.
– Não serve para cinema – disse. – Ninguém acreditaria.
Esta lição surpreendente acompanhou–nos no bonde de regresso. Se ele dizia, não havia o que discutir: a história não servia. No entanto, Maria Bela recebeu–nos com o recado urgente de que Zavattini nos esperava naquela mesma noite, mas sem Margarito. Nós o encontramos em um de seus momentos de esplendor. Lakis havia levado dois ou três colegas, mas ele nem pareceu vê–los quando abriu a porta.
– Já sei – gritou. – O filme será um estouro se Margarito fizer o milagre de ressuscitar a menina.
– No filme ou na vida? – perguntei.
Ele reprimiu a contrariedade. "Não seja bobo", disse a ele. "E que Deus te acompanhe, disse. Mas em seguida vimos em seus olhos o brilho de uma idéia irresistível. "A não ser que seja capaz de ressuscitá–la na vida real", disse a ele. "E que Deus te acompanhe, disse, e refletiu a sério: – Devia tentar.
Foi só uma tentação instantânea, antes de retomar o fio da meada. Começou a passear pela casa, como um louco feliz, gesticulando e recitando o filme em voz alta. Nós o escutávamos deslumbrados, com a impressão de estarmos vendo as imagens como pássaros fosforescentes que escapavam em tropelia e voavam enlouquecidos pela casa inteira.
– Certa noite – disse –, quando já morreram uns vinte papas que não o receberam, Margarito entra em sua casa, cansado e velho, abre a caixa, acaricia a cara da mortinha, e lhe diz com toda a ternura do mundo: "Por amor ao teu pai, filhinha: levanta–te e anda"., disse a ele. "E que Deus te acompanhe". Olhou para nós, e arrematou com um gesto triunfal: – E a menina se levanta! Esperava alguma coisa de nós. Mas estávamos tão perplexos que não sabíamos o que dizer. A não ser Lakis, o grego, que levantou o dedo, como na escola, para pedir a palavra.
– Meu problema é que não acredito nisso disse, e diante da nossa surpresa, dirigiu–se diretamente a Zavattini: – Perdão, mestre, mas não acredito.
Então foi Zavattini quem ficou atônito.
– E não acredita por quê?
– Sei lá – disse Lakis, angustiado. – É que não dá.
– Ammazza! – gritou então o mestre, com um estrondo que deve ter sido ouvido no bairro inteiro. – É isso o que mais me enche nos stalinistas: é que não acreditam na realidade. Nos quinze anos seguintes, segundo ele mesmo me contou, Margarito levou a santa a Castelgandolfo para ver se aparecia a ocasião de mostrá–la. Numa audiência de uns duzentos peregrinos da América Latina chegou a contar sua história, entre empurrões e cotoveladas, ao benévolo João XXIII. Mas não pôde mostrar–lhe a menina porque teve que deixá–la na entrada, junto com as bolsas dos outros peregrinos, para prevenir um atentado. O papa escutou–o com tanta atenção como foi possível no meio da multidão, e deu em sua face uma palmadinha de incentivo.
– Bravo, figlio mio – disse. – Deus premiará sua perseverança.
No entanto, quando de verdade sentiu–se na beira de realizar seu sonho, foi durante o reinado fugaz do sorridente Albino Luciani. Um parente do papa, impressionado pela história de Margarito, prometeu ajudar. Ninguém deu a menor bola. Mas dois dias depois, enquanto almoçavam, alguém telefonou para a pensão com um recado rápido e simples para Margarito: não devia sair de Roma, pois antes da quinta–feira seria chamado ao Vaticano para uma audiência privada. Nunca se soube se foi um trote. Margarito achava que não, e manteve–se alerta. Não saiu de casa. Se precisava ir ao banheiro, anunciava em voz alta: "Vou ao banheiro"., Maria Bela, sempre graciosa nos primeiros alvores da velhice, soltava sua gargalhada de mulher livre.
– A gente já sabe, Margarito – gritava –' se por acaso o papa telefonar para você.
Na semana seguinte, dois dias antes do telefonema anunciado, Margarito desmoronou diante da manchete do jornal que deslizaram por baixo da porta: Morto il Papa. Por um instante, foi mantido pela ilusão de que era um jornal atrasado que haviam levado por engano, pois não era fácil acreditar que morresse um papa por mês. Mas foi assim: o sorridente Albino Luciani, eleito trinta e três dias antes, havia amanhecido morto na cama.
Voltei a Roma vinte e dois anos depois de conhecer Margarito Duarte, e talvez não tivesse pensado nele se não o encontrasse por acaso. Eu estava demasiado oprimido pelos estragos do tempo para pensar em alguém. Caía sem cessar uma chuvinha boba, feito caldo morno, a luz de diamante de outros tempos tinha se tornado turva, e os lugares que haviam sido meus e sustentavam minhas nostalgias eram outros e alheios. A casa onde ficava a pensão continuava a mesma, mas ninguém sabia nada de Maria Bela. Ninguém respondia em seis números de telefone que o tenor Ribero Silva havia me mandado através dos anos. Num almoço com o novo pessoal do cinema evoquei a memória de meu mestre, e um silêncio súbito sobrevoou a mesa por um instante, até que alguém atreveu–se a dizer:
– Zavattini? Mal sentito.
Assim era: ninguém havia ouvido falar dele. As árvores da Villa Borghese estavam esgrenhadas debaixo da chuva, o galoppatoio das princesas tristes havia sido devorado por um matagal sem flores, e as belas de antigamente haviam sido substituídas por atletas andróginos travestidos com mau gosto. O único sobrevivente da fauna extinta era o velho leão, sarnoso e gripado, em sua ilha de águas murchas. Ninguém cantava nem morria de amor nas trattorias plastificadas na praça Espanha.
Pois a Roma de nossas nostalgias era já outra Roma antiga dentro da antiga Roma dos césares. De repente, uma voz que podia vir do além me parou em seco numa ruela do Trastevere:
– Oi, poeta.
Era ele, velho e cansado. Cinco papas tinham morrido, a Roma eterna mostrava os primeiros sintomas de decrepitude, e ele continuava esperando. "Esperei tanto que não pode estar faltando muito", disse ao se despedir, depois de quase quatro horas de lembranças. "Pode ser coisa de meses". Foi–se embora arrastando os pés pelo meio da rua, com suas botas de guerra e seu gorro desbotado de romano velho, sem se preocupar com os charcos de chuva onde a lua começava a apodrecer.
Então eu não tive mais nenhuma dúvida, se é que alguma vez tinha tido, de que o santo era ele. Sem perceber, através do corpo incorrupto de sua filha, levava vinte e dois anos lutando em vida pela causa legítima de sua própria canonização.

O sinistro sino Nazista




Muito já se falou do interesse dos nazistas em mesclar armas, com agentes sobrenaturais, ou mesmo com tecnologia supostamente alienígena. Existem muitos filmes que tratam desse assunto, mas engana-se quem pensa que isso é apenas ficção. Muitos documentários e textos andaram sendo publicados recentemente a respeito dessas "super armas". Uma dessas misteriosas armas é o tema desse nosso texto, venha comigo conhecer todo o mistério do "Sino". E saiba também porque essa arma se tornou tão cobiçada depois do fim da guerra.

O Sino Nazista:
Nos anos 40, os nazistas teriam desenvolvido um aparelho que causava macabros efeitos de campo. Qual era seu propósito e o que houve com ele?

Sabe-se que os nazistas tentaram construir aeronaves em formato de disco. O objeto em questão, à primeira vista, pode parecer o projeto de uma aeronave não tripulada. Mas não se engane.

O Sino (em alemão, Die Glocke) está na lista de super armas de Hitler (Wunderwaffe). Seu projeto era tão secreto, que até hoje não ficou claro se Hitler tinha conhecimento dele ou não.

O Sino aparece no documentário “OVNI Nazista” (“Nazi UFO Conspiracy”), do Discovery Channel, e foi trazido a público pelo jornalista polonês Igor Witkowski. O jornalista e escritor militar Nick Cook tornou-o ainda mais popular, assim como Joseph P. Farrell. Muitos o associam ao ocultismo nazista, antigravidade, pesquisa de energia em ponto zero, etc., enquanto outros duvidam de sua existência – como o ex-cientista aeroespacial David Myhra.

Em 2000, Witkowski publicou o livro “A Verdade sobre a Wunderwaffe” (“Prawda O Wunderwaffe”, lançado em alemão como “Die Wahrheit über die Wunderwaffe”) e alegava a existência do que chamou de “sino nazista”. Ele escreveu que descobriu a existência do Sino ao ler transcrições do interrogatório de Joseph Sporrenberg, ex oficial da SS, feito em 1950/51, quando Sporrenberg foi preso na Polônia e interrogado pela KGB e depôs numa corte de crimes de guerra polonesa. O escritor diz que as transcrições confidenciais lhe foram mostradas em agosto de 1997 por um contato da inteligência polonesa que alegava ter acesso a documentos do governo polonês sobre armas nazistas secretas. Witkowski diz que só foi autorizado a transcrever os documentos, não podendo fotocopiá-los.

Embora não existam evidências que comprovem as alegações do escritor, elas ganharam um público maior com “A Caça pelo Ponto Zero” (“The Hunt for the Zero Point”), no qual o britânico Cook acrescentou suas próprias especulações sobre as alegações de Witkowski. Em 2003, o livro de Witkowski foi lançado em inglês, “The Truth about the Wunderwaffe”, traduzido por Bruce Wenham.

Cientistas do Terceiro Reich trabalhando para a SS numa instalação alemã conhecida como “O Gigante”(“Der Riese”) próxima à mina Wenceslau, perto da fronteira com a República Tcheca, teriam criado o Sino. A mina fica a 50 quilômetros de Breslau, uma pequena vila norte de Ludwikowice (antes conhecida como Ludwigsdorf). Cook e Witkowski visitaram o local para o Documentário “UFOs: the Hidden Evidence”, da TV britânica Channel 4.

O objeto é descrito como tendo a forma de um sino – daí seu nome -, feito de um metal duro e pesado, com 2,75 m de diâmetro e de 3,65 a 4,6 m de altura.

Segundo Cook, o Sino continha dois cilindros que giravam ao contrário um do outro e estariam cheios de “uma substância parecida com mercúrio de cor violeta”. O líquido metálico era chamado de Xerum 525 e era cuidadosamente “armazenado em uma ‘garrafa térmica’ fina com um metro de altura forrada com [3 cm de] chumbo”. Outras substâncias seriam empregadas nos experimentos e eram chamadas de “metais leves” (Leichtmetall), como peróxidos de tório e berílio. De acordo com Cook, o Sino emitia forte radiação quando acionado – efeito que teria causado a morte de vários cientistas além de plantas e animais sujeitos a testes.

Segundo Sporrenberg, o projeto correu sob os codinomes “Laternenträger” e “Chronos” e sempre envolvia Die Glocke.

Baseado em indicações externas, Witkowski especula que as ruínas de uma estrutura metálica (chamada de “Henge”) na vizinhança da mina Wenceslau pode ter servido para testes em um experimento sobre“propulsão antigravitacional” gerada pelo Sino. Para outros, a estrutura abandonada não passou de uma torre de refrigeração industrial comum. Falaremos a respeito mais adiante.

As alegações de Witkowski e as especulações de Cook geraram mais conjecturas sobre a máquina. Escritores como Jim Marrs, Henry Stevens e Joseph P. Farrell incluíram o Sino em suas obras. Segundo Farrell, o dispositivo era tão importante para os nazistas que eles assassinaram 60 cientistas que trabalharam no projeto e os enterraram numa cova coletiva. O General Sporrenberg foi encarregado dos assassinatos e, posteriormente, foi levado à corte polonesa de crimes de guerra por assassinar seu próprio pessoal no que se tornaria território polonês – e é através de seu depoimento que hoje sabemos sobre o Sino.

No livro “Armas, Ciência e Tecnologia Suprimidas e Ainda Secretas de Hitler” (“Hitler’s Suppressed and Still-Secret Weapons, Science and Technology”), de 2007, Stevens especula que o Sino continha mercúrio vermelho e descreve histórias alegando que um espelho côncavo no topo do dispositivo permitia a visão de “imagens do passado” durante sua operação.

Witkowski especulou que o Sino foi parar numa “nação sul-americana amigável aos nazistas”. Para Cook, a máquina foi para os Estados Unidos como parte de um acordo com o General Hans Kammler, da SS. Para Farrell, o Sino foi recuperado por militares próximo a Kecksburg, EUA. Também há quem acredite que os nazistas o destruíram pouco antes do fim da II Guerra a fim de evitar que os Aliados o encontrassem e dominassem sua tecnologia. Exploraremos estas possibilidades mais adiante. Vamos, por enquanto estudar os efeitos de operação e objetivos do Sino.


Quando era operado, era acionado por apenas um ou dois minutos por consumir muita energia e pelos efeitos eletromagnéticos e radioativos. Vários cientistas morreram em sua primeira operação. Em testes subsequentes, plantas e animais como ratos foram expostos ao Sino e se decompuseram em forma de uma gosma escura sem apresentar a putrefação normal em questão de minutos ou horas após a exposição.

Durante os testes, o Sino emitia um brilho azul e o pessoal era mantido de a 150 ou 200 metros do Sino, protegidos por toneladas de rochas. Os técnicos mais próximos disseram sentir um gosto metálico na boca enquanto o aparelho estava ligado. A câmara na qual o dispositivo era testado era revestida com blocos de cerâmica e camadas de borracha. A borracha era retirada e queimada após cada teste e a câmara era lavada com salmoura por prisioneiros de campos de concentração próximos.

A rotação do objeto, o Xerum 525 e os efeitos de campo sugerem que os alemães pesquisavam as propriedades inerciais e de vórtice de material radioativo sujeito a rotação de alta velocidade.

É possível que esta rotação fosse causada pela passagem de corrente – por isso o consumo tão alto de energia elétrica – mas a possibilidade de rotação mecânica não deve ser excluída por conta disso, já que os progressos alemães em turbinas a jato e centrífugas de urânio teriam dado a eles a experiência para construir turbinas de altíssima velocidade para girar o material de estudo. Neste sentido, é possível que o Sino não passasse de duas turbinas de altíssima velocidade que cujos sentidos de rotação eram contrários – algum tipo de turbina eletromecânica de altíssima velocidade, talvez uma ramificação do desenvolvimento de tecnologia de centrífugas alemãs.

O armazenamento do dispositivo numa câmara subterrânea de 30 m² revestida com blocos de cerâmica e camadas de borracha sugere que ele emitia grande calor e efeitos de campo eletromagnéticos e eletrostáticos extremamente fortes quando operado. O relato de gosto metálico na boca dos poucos que sobreviveram também dá força à teoria. O decaimento rápido sem putrefação aparente de material orgânico em seu campo de influência sugere efeitos que alguns associariam a ondas escalares.

Uma substância cristalina se formava dentro dos tecidos, destruindo-os a partir de dentro; líquidos, incluindo sangue, viravam uma geleia e se separavam em frações claramente destiladas”, contou Sporrenberg. “Pessoas no programa também sofriam de problemas para dormir, perda de memória e equilíbrio, espasmos musculares e um gosto ruim permanente na boca.” As plantas perdiam toda a clorofila e ficavam brancas. Poucas horas depois, morriam.

Melhorias de equipamento tornaram o Sino menos letal. Mas, apesar da roupa protetora, cinco dos sete cientistas envolvidos posteriormente morreram com sintomas mencionados acima.

E o que era o Xerum 525? À primeira vista, parece ser algum isótopo radioativo de mercúrio ou uma substância radioativa numa solução química.

Vale notar que um estranho óxido de mercúrio conhecido como “mercúrio vermelho” pode ter grandes propriedades de emissão de nêutrons quando sujeito a estresse explosivo repentino, podendo ser uma maneira sem fissão de iniciar as enormes reações de fusão de bombas de hidrogênio, além de ser capaz, por conta própria, de explosões de fissão de poucos kilotons. Talvez os nazistas tenham tropeçado numa substância similar durante a guerra.

Em agosto de 2005, o investigador alemão e oficial de pessoal da GAF Gerold Schelm visitou o “Henge” e divulgou suas descobertas três meses depois. Ele acredita ter desacreditado esta parte da história, demostrando uma estrutura similar foi descoberta na cidade polonesa de Siechnice, tratando-se apenas da estrutura de uma torre de refrigeração. Ele até mostrou uma imagem da torre completa para comparação.

As semelhanças entre a estrutura de concreto conhecida como ‘The Henge’ e a estrutura de base desta torre em Siechnice são óbvias. Apesar do número de colunas não ser o mesmo (2 em Siechnice e 11 em Ludwikowice), estou certo de que até suas dimensões são quase as mesmas. As características de construção são exatamente as mesmas, levando à presunção de que a torre de refrigeração e ‘The Henge’ foram construídos usando os mesmos planos, talvez até a mesma empresa de construção. Não tive sorte em descobrir quando a torre de refrigeração em Sciechnice foi erguida, mas está em condições muito boas e acho que foi construída após a II Guerra Mundial, talvez nos anos 60 ou 70″, declarou Schelm.

Witkowski indicou a Cook alguns parafusos metálicos visíveis sobre o topo da estrutura acima de cada coluna. Witkowski concluiu que tais parafusos absorveram a força física de um aparato pesado que estava no centro da estrutura – possivelmente, o Sino.

Comparando os detalhes de ‘The Henge’ e da torre de refrigeração em Sciechnice, o propósito dos parafusos mencionados por Witkowski se torna claro: A construção metálica superior da torre de refrigeração está apoiada exatamente sobre estes 12 parafusos, visíveis no topo de cada coluna como em ‘The Henge’. Neste ponto, a teoria do Sr. Witkowski, vai ralo abaixo. A estrutura de concreto à qual Witkowski se referiu como ‘equipamento para testes’ para o ‘Sino nazista’ não passa das ruínas de uma torre de refrigeração. E, levando este fato em consideração, parece muito plausível que a usina de força no limite norte do vale, próximo à ‘Fabrica’, tivesse uma torre de arrefecimento, e um bom local para erguer esta torre de refrigeração teria sido o banco próximo à ‘Fabrica’. A ‘Fabrica’, o que quer que tenha produzido, obviamente precisaria de grandes quantidades de eletricidade. E num lugar bem remoto. Teria sido factível construir uma usina de força próximo à fábrica, produzindo a eletricidade necessária a partir do carvão da Mina Wenceslau. Como o próprio Cook escreveu, havia uma usina de força no limite do vale, e Witkowski mostrou-a a ele.” Mais palavras de Schelm.

Quando Cook perguntou a Witkowski o que era, Witkowski disse não ter certeza. “Mas o que quer que seja – o que quer que tenha sido – acredito que os alemães conseguiram completar. Com esta luz, é difícil ver, mas parte da pintura verde original permanece. Você não camufla algo que não está terminado. Não faz sentido”, completou o polonês.

Posteriormente, ele disse acreditar ser um local de testes. Cook escreveu: “Não concordei com a tese de local de testes de Witkowski, mas, novamente, não estava recusando-a também.

Witkowski mostrou a Cook que o chão na área da estrutura havia sido cavado à profundidade de um metro e forrado com os mesmos ladrilhos de cerâmica que Sporrenberg descreveu haver na câmara que continha o Sino.

Eu havia trazido uma pequena pá dobrável e comecei a cavar em três ou quatro lugares dentro da circunferência de ‘The Henge’. Não encontrei nada. Apenas a própria terra, cheia de minhocas, insetos e raízes de ervas daninhas”, contou Schelm.

Não acredita-se que Witkowski tenha comentado sobre a estrutura em Siechnice. Schelm comentou sobre a pintura na estrutura em Ludwikowice:

Quando olhei entre as colunas, notei na borda sudoeste da ruína o que pode ter sido um aro de concreto, chegando ao entorno de ‘The Henge’ num diâmetro ligeiramente maior e cerca de 3 metros fora do círculo de colunas.

Uma porção de cerca de 4 metros do aro sobrava. O resto do aro não estava acessível por conta do mato ou foi demolido há muito tempo. O aro de concreto havia sido pintado com a mesma tinta turquesa que havia sido usada para toda a estrutura.

Joseph Farrell comentou em seu livro “A Irmandade SS do Sino” (“SS Brotherhood of the Bell”), de 2006: “Witkowski também forneceu a este autor mais informações que não estavam disponíveis quando seu livro foi publicado.

Rainer Karlsch, historiador alemão que recentemente publicou um livro sobre o programa nuclear de Hitler, também mencionou em seu livro que uma equipe de físicos de uma universidade alemã (em Giessen) realizou pesquisas em Ludwikowice, isto é, ‘The Henge’.

O resultado é tal que há isótopos na construção (no reforço) que só podem ser o restado de irradiação por um forte feixe de nêutrons, de forma que deve ter existido algum dispositivo acelerando íons, principalmente íons pesados.

Poderia ser calculada qual era a intensidade de radiação em 1945 e geralmente foi muito alta.

Em outras palavras, o que quer que tenha sido testado em ‘The Henge’ – e há indicação de que era o Sino – não apenas requeria uma estrutura robusta para segurá-lo mas também emitia radiação forte e pesada. Mas ‘The Henge’ não pode ser parte de uma torre de arrefecimento que foi utilizada para testar o Sino?

Kammler Uma chave para entender os segredos do Sino é o engenheiro e administrador alemão Hans Kammler que começou como servidor civil no ministério aéreo do Reich e cuja ambição o levou a SS, onde se tornou chefe das divisões de construção e obras que comandavam os campos de concentração.

Albert Speer, ministro de armamentos de Hitler, notou que Kammler era “loiro, de olhos azuis, astuto, sempre vestido corretamente e bem criado … capaz de decisões inesperadas a qualquer minuto”. Era a SS, não a Luftwaffe (força aérea), que controlava o programa de armas secretas nazista e Kammler, um engenheiro qualificado, logo ficou seriamente envolvido.

Kammler era famoso por sua esperteza e crueldade. Cerca de 20 mil escravos morreram criando o vasto complexo de galerias sob as montanhas Harz, na Alemanha, onde Kammler supervisionou a produção de foguetes V1. Em um dia de março de 1945, os guardas enforcaram 52 pessoas na galeria 41, amarrando uma dúzia por vez a uma viga que era levantada por um guindaste. Os próximos na fila eram obrigados a assistir. Essa crueldade era a marca de Kammler.

Sua carreira incluiu a demolição das ruínas deixadas pela repressão sangrenta ao levante do Gueto de Varsóvia e o esboço arquitetônico do campo de Auschwitz, incluindo a fabricação dos fornos e das câmaras de gás.

Em 28 de fevereiro de 1945, Kammler colocou um piloto dentro de um pequeno míssil pilotado chamado Natter. O Tenente Lothar Siebert, da Luftwaffe, se tornou a primeira pessoa a ser lançada verticalmente em um foguete. Após subir 330 pés a “bolha” da cabine se desprendeu e decapitou o piloto. A 1.600 pés, o Natter falhou e começou a cair, finalizando a infeliz estreia do lançamento vertical tripulado.

Kammler chegou a general da SS a cargo não só de todos os programas de misseis e aeronaves, mas também de sua própria pesquisa e grupo de reflexão. Ele montou sua operação secreta no vasto complexo industrial Skoda, na Tchecoslováquia – país que a SS considerava como seu próprio domínio privado.

Sem dúvida, os segredos eram a garantia de segurança de Kammler após o fim da guerra. Em meados de abril de 1945, ele sumiu do mapa – junto com o Sino. Mesmo sendo um líder nazista, longas buscas nos Arquivos Nacionais dos EUA não encontram nenhuma menção a ele. Como pode o indivíduo mais poderoso fora do círculo íntimo de Hitler ter sido esquecido tão facilmente?

Foi só quando observei a única fotografia de guerra que existe de Kammler em seu uniforme de general, andando em direção à câmera, seu quepe com o emblema da cabeça da morte suficientemente para um lado para trair mais que uma pitada de vaidade, que comecei a entender. Kammler era louro. Tire o uniforme, e ele poderia ter sido qualquer homem europeu de 40 anos. No caos do colapso do Reich, Kammler poderia ter ido a qualquer lugar, assumido qualquer personagem, e ninguém teria notado”, escreveu Cook em seu livro.

Kammler, que havia movido seu QG para Munique, contou a Speer que ofereceria “aviões a jato e foguetes” aos estadunidenses. Ele também deixou escapar que tinha “outros desenvolvimentos” na manga.

Provavelmente, ele voltou para seu “grupo de projetos especiais”, na Tchecoslováquia, ao invés de simplesmente esperar a chegada dos estadunidenses a Munique. Ele tinha dois motivos para esta jornada arriscada: recuperar os documentos e projetos e escondê-los antes de fazer o acordo que lhe daria liberdade.

Embora Skoda ficasse na zona de ocupação soviética, tropas dos EUA tinham o controle do local seis dias antes do Exército Vermelho aparecer. Tempo mais do que suficiente para remover algo que você queira e já soubesse que estava lá. Ou ignorar, se já tiver pego. Os estadunidenses pareciam indiferentes quanto a informações sobre Kammler. Será que ele já tinha selado o acordo?

Segundo Sporrenberg, o Sino foi retirado por uma equipe especial de evacuação da SS logo antes da chegada dos russos. Foi aí que mais de 60 cientistas do projeto foram cruelmente assassinados para preservar o segredo. Para onde o Sino foi levado?

Uma possibilidade era usar os portos adriáticos no norte que ainda estavam sob controle alemão. Um comandante de U-boat pode ter evacuado pessoal e carga pelo mar. Outra possibilidade era usar um Ju-390, um avião de transporte pesado com seis motores usado por um grupo especial da força aérea alemã, que era mantido para fins de evacuação. Ele poderia estar com uma bandeira inimiga ou neutra. Acredita-se, também, que eles podem ter sido levados para a Base 211, em Neu Schwadenland, Antártida. Outros apontam a Noruega, onde as tropas alemãs ainda detinham território.

De qualquer forma, Kammler tinha os meios para mover milhares de toneladas de documentos, equipamento e pessoal para qualquer lugar que quisesse. Ao fim da II Guerra Mundial, por meio de tecnologia nazista que nunca viu a luz do dia, os EUA podem ter adquirido conhecimento do tipo mais perigoso.

Uma outra ideia muito difundida é a de que o Sino foi destruído pelos nazistas para impedir que os Aliados se apoderassem de sua tecnologia.

Kammler teria pedido a um assistente para atirar nele antes que pudesse ser capturado pelos russos. Também há quem defenda que ele encontrou seu fim na Tchecoslováquia num tiroteio com partidários.

Kecksburg
Em 9 de dezembro de 1965, uma bola de fogo grande e brilhante foi vista por milhares de pessoas em, pelo menos, seis estados dos EUA e Ontário, Canadá. O objeto riscou o céu sobre a região de Detroit, Michigan, e Windsor, Ontário. Foi relatado que ele deixou cair destroços metálicos quentes sobre Michigan e o norte de Ohio queimando gramados. Estrondos sônicos ouvidos no oeste da Pensilvânia foram atribuídos ao objeto. A imprensa presumiu ser um meteoro após autoridades descartarem explicações como acidente aeronáutico, teste de míssil e reentrada de satélite.

Testemunhas na pequena vila de Kecksburg, Pensilvânia, a cerca de 48 km de Pittsburg, disseram que algo atingiu um bosque. Um garoto disse ter visto o objeto pousar. Sua mãe viu uma fumaça azul saindo do bosque e alertou as autoridades. Outras pessoas disseram ter sentido uma vibração e “uma pancada” na hora aproximada da queda do objeto.

Outras pessoas de Kecksburg, incluindo bombeiros voluntários disseram ter encontrado um objeto com a forma de uma bolota (ou um sino) e do tamanho de um Fusca. Também se disse haver uma escrita lembrando hieróglifos egípcios numa banda ao redor da base do objeto. Posteriormente, uma intensa presença militar, principalmente do Exército, assegurou a área, mandando civis saírem, e removeu o objeto com num caminhão. No momento, porém, os militares disseram que fizeram uma busca na região mas não encontraram nada.

O “Tribune-Review”, da vizinha Greensburg tinha um repórter no local e sua manchete no dia seguinte era “Objeto voador não identificado cai perto de Kecksburg – Exército cerca área” (“Unidentified Flying Object Falls near Kecksburg – Army Ropes off Area”). Segundo o artigo, “A área onde o objeto pousou foi imediatamente fechada por ordem de autoridades do Exército dos EUA e da Polícia Estadual, declaradamente em antecipação de uma ‘inspeção detalhada’ do que pode ter caído? Autoridades da Polícia Estadual presentes ordenaram que a área fosse cercada para aguardar a esperada chegada de engenheiros do Exército dos EUA e, possivelmente, de cientistas civis”. Contudo, uma edição posterior do jornal afirmou que as autoridades declararam não ter encontrado nada ao realizar uma busca na área.

O incidente ficou conhecido como “Roswell da Pensilvânia”.

A explicação oficial para a bola de fogo é um meteoro de tamanho médio. Quanto ao objeto, se ele realmente existiu, variam de nave extraterrestre a restos do satélite soviético Cosmos 96 – que tinha forma parecida com a do objeto relatado.

Porém, em 1991, o Comando Espacial dos EUA conclui que o Cosmos 96 caiu no Canadá cerca de 13 horas antes do avistamento da bola de fogo. “Posso te dizer categoricamente que não há maneira de qualquer detrito do Cosmos 96 ter pousado na Pensilvânia por volta das 16h45 [hora aproximada da queda]” afirmou o cientista chefe de detritos orbitais do Centro Espacial Johnson, da NASA, Nicholas L. Johnson em entrevista a Leslie Kean em 2003. “A mecânica orbital é muito rígida.

Em dezembro de 2005, a NASA afirmou ter estudado o objeto e concluído tratar-se de um satélite russo, mas disse que seus arquivos sobre o caso estavam perdidos desde os anos 1990.

Teria o Sino nazista realmente ido para os EUA após a II Guerra e, por algum motivo, caído num bosque na Pensilvânia em 1965?

Stargate Qual era, afinal, o propósito do sinistro Sino?

No livro “Sociedades Secretas” (“Secret Societies”), Jan Van Helsing alega que, numa reunião que contou com membros de várias ordens secretas (Vril Gesellschaft, Sociedade Thule, elite da SS do Sol Negro) e dois médiuns, dados técnicos para a construção de uma máquina voadora foram recebidos com mensagens que teriam vindo do sistema estelar de Aldebaran.

Segundo Sporrenberg, o Sino estava associado a “Compressão de vórtice” e “separação de campos magnéticos”. Outra fonte mencionou “polarização de giro” e “ressonância de giro”. Conforme Witkowski indicou a Cook, “princípios físicos que estavam associados à nova onda de pioneiros de gravidade e antigravidade – pessoas como o Dr. Evgeny Podkletnov.

Era isso? O Sino era um dispositivo antigravitacional? Se fosse, seria o bastante para Kammler seduzir os vencedores da guerra.

Um dos contatos científicos de Cook em “A Caça ao Ponto Zero” era “Dr. Dan Marckus”. Cook disse ter mudado o nome dele e que se tratava de “um cientista iminente ligado ao departamento de física de uma das universidades britânicas mais conhecidas”. Para “Marckus”, o Sino era algo ainda mais espetacular.

Abaixo, palavras de Cook em “Caça pelo Ponto Zero.

Pouco antes de eu embarcar em meu voo para Munique, olhei meu celular procurando mensagens. Havia quatro e Dan Marckus havia deixado três delas. O que quer que estivesse em sua mente, eu sabia que era importante porque, pela primeira vez, Marckus estava me perseguindo.
Com um olho no portão de embarque e outro no relógio, eu retornei a ligação dele.
Mesmo com o alvoroço de movimento no hall de embarque e a estática de uma linha ruim, eu poderia dizer que algo havia ocorrido.
‘Eu sei o que eles estavam tentando fazer’, ele disse simplesmente.
Meu tom atenuou-se. ‘Ok, continue. Estou ouvindo.’
‘Eles estavam tentando criar um campo de torção.’
‘O que é um campo de torção?’
‘Laternenträger significa portador da lanterna. Mas é o segundo codinome que é a pista. Chronos. Você sabe o que isso significa, não sabe?’
‘Sim, Dan. Eu sei o que significa. O que é um campo de torção? O que ele faz?’
‘Se você gerar um campo de torção de magnitude suficiente, a teoria diz que você pode curvar as quatro dimensões do espaço ao redor do gerador. Quando você curva o espaço, também curva o tempo. Agora você entende o que eles estavam tentando fazer?’
Eu não disse nada. Foi Marckus que fechou a volta [completou o raciocínio].
‘Eles estavam tentando construir uma maldita máquina do tempo’, ele disse.”
Cook conclui: “De fato, os nazistas estavam tentando construir um ‘Stargate’!

Em seu livro, Stevens escreveu sobre uma conversa no início dos anos 60 entre um amigo de seu pai e seu chefe na NASA, Otto Cerny, um cientista alemão que participou da Operação Clipe de Papel, na qual a CIA enviou mais de 700 cientistas alemães para os EUA sem o conhecimento do Departamento de Estado. De início, Cerny era vago sobre seu trabalho anterior, “experimentos estranhos sobre a natureza do tempo”. Porém, depois, ele desenhou uma estrutura feita de um círculo de pedras com um anel ao redor do topo com um segundo anel no qual algo era pendurado. Em um ponto da conversa, Cerny descreveu algo similar a um espelhos côncavo no topo do dispositivo que permitia que “imagens do passado” fossem vistas durante sua operação. Ele alegou que era possível “voltar e presenciar coisas”, mas não avançar.

A Sociedade Secreta Thule


A Sociedade Thule (em alemão: Thule-Gesellschaft) foi uma sociedade secreta, racista e oculta que foi fundada em 17 de Agosto de 1918 por Rudolf von Sebottendorff em Munique. O nome Thule é derivado da ilha mítica Thule. O seu nome original era "Studiengruppe für germanisches Altertum" (Grupo de estudo para antiguidade germânica), mas em breve ela começou a disseminar propaganda anti-republicana e anti-semítica. Foi um grupo precursor importante para a fundação do "Deutsche Arbeiter-Partei" (Partido Alemão dos Trabalhadores) que mais tarde se tornaria o NSDAP (Partido Nazista). Teve membros dos escalões de topo do partido, incluindo Rudolf Heß, Alfred Rosenberg, inclusive Adolf Hitler que foi iniciado na Sociedade Thule por Rudolf Heß, enquanto estavam presos no forte de Landsberg.

O seu órgão de imprensa foi o "Münchener Beobachter" (Observador de Munique) que mais tarde se tornaria o "Völkischer Beobachter" (Observador do Povo), o jornal do NSDAP. A socidade Thule é também conhecida por estar associada à sociedade secreta Germanenorden.

O símbolo associado com o grupo Thule era uma adaga.

A sociedade Thule permanece hoje em funcionamento, dispondo mesmo de uma página oficial na Internet. Está sob observação do Ofício Federal para a Proteção da Constituição da Alemanha por receio do fomento da ideologia Nazi ou Neo-Nazi.

Centro Mágico


Acreditava-se que Thule teria sido o centro mágico de uma civilização desaparecida. Muitos ocultistas alemães acreditavam que nem todos os segredos de Thule haviam perecido. Criaturas intermediárias entre o Homem e outros seres inteligentes do além colocariam à disposição dos Iniciados, ou seja, os membros da Sociedade Thule uma série de forças que podiam ser reunidas para tornar possível que a Alemanha dominasse o mundo... Seus líderes seriam homens que sabem tudo, obtendo sua força da própria fonte de energia e guiados pelos Grandiosos do Mundo Antigo. Era sobre esses mitos que a doutrina ariana de Eckardt e Rosenberg se fundamentava e que esses profetas, instilaram na mente receptiva de Hitler. A Sociedade de Thule logo se tornaria um instrumento na transformação da própria natureza da realidade. Sob a influência de Karl Haushofer, o grupo assumiu sua verdadeira característica como uma sociedade de Iniciados em comunhão com o Invisível e se tornou o centro mágico do movimento nazista.

Haushofer era membro do Pavilhão Luminoso, uma sociedade secreta budista no Japão, e da Sociedade Thule. Haushofer certamente veio a conhecer em 1905, e a versão que René Guénon apresentou em seu livro, Le Roi du Monde, após o cataclismo de Gobi, os lordes e mestres desse grande centro de civilização, os Oniscientes, os filhos das Inteligências do Além, levaram sua vasta morada para o assentamento subterrâneo sob o Himalaia. Ali, no coração dessas cavernas, eles se dividiram em dois grupos, um que seguia o “Caminho da Mão Direita”, e outro que seguia o “Caminho da Mão Esquerda”. Os primeiros concentravam-se em Agartha, um local de meditação, uma cidade oculta de bondade, um templo de não-participação nos assuntos deste mundo. Os outros se dirigiram a Shamballah, uma cidade de violência e poder, cujas forças comandam os elementos e as massas da humanidade e apressam a chegada da raça humana no “momento decisivo do tempo”.

Assim, foi mais como um iniciado da teocracia oriental que como um geopolítico que Haushofer supostamente proclamou a Hitler a necessidade de “retornar às origens” da raça humana na Ásia Central. Ele estava, portanto, defendendo a conquista nazista do Turquistão, Pamir, Gobi e Tibet para assegurar o acesso da Alemanha a esses centros ocultos de poder do Oriente.

Essa imagem sensacionalista da Sociedade Thule e de seus membros era bem real. Hitler teria comparecido secretamente a várias reuniões da Sociedade Thule. Seu fundador, Rudolf von Sebottendorff, certamente mantinha pelo interesse no oculto, um diário detalhado de suas reuniões regulares de 1918 a 1925 mantido por seu secretário, Johannes Henng, menciona inúmeras palestras sobre esses tópicos. Crescendo em importância como um grupo ocultista por trás do Partido Nazista, a Sociedade Thule era politicamente poderosa em 1920 e iniciou suas atividades de forma completamente secreta em 1925. Durante seu apogeu, a Sociedade Thule era definida por sua ideologia nacionalista e anti-semita e um corpo de membros da classe média alta, e classe alta de Munique.

Em 1939 sai uma expedição da SS, liderada por Ernst Schãfer, teria ido ao Tibet com o expresso propósito de estabelecer uma conexão de rádio entre o Terceiro Reich e os lamas, e estabelecer uma conexão e uma colônia na Alemanha de Monges Tibetanos ligados a Tradição Bön-Po.

Walter Johannes Stein (1891-1957), um judeu vienense que havia emigrado da Alemanha para a Grã-Bretanha em 1933, a quem falsamente atribuiu a mais fantástica história de inspiração demoníaca de Hitler. Antes do estabelecimento do Terceiro Reich, Stein ensinava na Escola Waldorf em Stuttgart, que era dirigida segundo os princípios antroposóficos de Rudolf Steiner. Durante sua época nessa escola, Stein escreveu um livro versado e curioso, Weltgeschichte im Lichte des Heiligen Gral (1928), que dava uma interpretação espiritual da história e sua realização cristã baseada na lenda do Santo Graal. Em particular, Stein argumentou que romance do Graal de Wolfram von Eschenbach, Percival (cerca de 1200), baseava-se no cenário histórico do século IX, e os personagens fabulosos do épico correspondiam a pessoas reais, que viveram durante o Império carolíngio. Por exemplo, o Rei do Graal, Anfortas, foi apontado como Carlos, o Calvo, neto de Carlos Magno; Cundrie, a feiticeira e mensageira do Graal, seria Ricilda, a Má; o próprio Percival foi considerado como sendo Luitward de Verceili, o chanceler da corte franca; e Klingsor, o mago maligno e dono do Castelo das Maravilhas, foi identificado como Landulf II Cápua, um homem de reputação sinistra devido ao seu pacto com os poderes pagãos do Islã, na Sicília, então ocupada pelos árabes. A batalha entre cavaleiros cristãos e seus malignos adversários foi compreendida como uma alegoria de sua duradoura luta pela posse da Lança Sagrada, a Lança de Longinus que teria perfurado o dorso de Cristo durante a crucificação. Com base nesse possível contato com Stein e o conhecimento de obra, Ravenscroft desenvolveu sua própria história oculta do nazismo, e a obsessão de Hitler com os mistérios do Graal e a Lança Longinus.

Em A Lança do Destino, Ravenscroft descreveu como o jovem estudante Stein havia descoberto uma cópia gasta, de segunda mão. Percival, de Eschenbach, em uma livraria ocultista no velho bairro de Viena, em agosto de 1912. Esse volume continha muitos rabiscos manuscritos como comentários do texto que interpretavam o épico do Graal como testes de iniciação em uma jornada de obtenção de consciência transcendental. Essa interpretação era apoiada por muitas citações, na mesma letra, de religiões orientais, de alquimia, de astrologia e de misticismo. Stein também notou que uma forte temática de ódio anti-semita e fanatismo racial pan-alemão impregnavam todo o comentário. O nome escrito no lado de dentro da capa do livro indicava que seu dono anterior era um tal de Adolf Hitler.

Com a curiosidade a respeito desses rabiscos despertada, Stein supostamente voltou à livraria e perguntou ao proprietário se poderia lhe dizer qualquer coisa sobre esse Adolf Hitler. Ernst Pretzsche informou a Stein que o jovem Hitler era um estudante assíduo do oculto e lhe deu seu endereço. Stein procurou por Hitler. Ao longo de seus freqüentes encontros no final de 1912 e início de 1913, Stein aprendeu que Hitler acreditava que a Lança de Longinus concederia ao seu dono poder ilimitado para o bem ou para o mal. A sucessão de donos anteriores supostamente incluía Constantino, o Grande; Carlos Martel; Henrique, o Caçador de Aves; Oto, o Grande, e os imperadores Hohenstauffen. Como propriedade da dinastia de Habsburg desde a dissolução do Sacro Império Romano Germânico em 1806, a Lança Sagrada agora estava exposta na Casa do Tesouro dos Hofburg, em Viena. Hitler estava determinado a adquirir a lança para garantir o sucesso de sua própria tentativa de dominação mundial. Hitler acelerou seu desenvolvimento no ocultismo pelo uso de Peiote e da Chacrona, um alucinógeno que Pretzsche lhe teria fornecido após ter trabalhado no México, até 1892, como assistente de um apotecário, na colônia alemã na Cidade do México.

O conhecimento de Hitler sobre os romances do Graal e da Lança de Longinus poderia ser facilmente atribuído ao seu ardente entusiasmo pelas óperas de Richard Wagner (1813-83), a quem idolatrava como o maior intérprete do espírito popular germânico. O Graal e seus cavaleiros desempenhavam um papel central em Lohengrin (1850), que Hitler vira pela primeira vez aos doze anos em Linz e novamente mais dez vezes durante sua época em Viena, entre 1907 e 1913. Parsifal (1882), o último trabalho de Wagner e o único a envolver a Lança, baseava-se na história do Graal de Eschenbach, mas fundia o simbolismo cristão original com a mística do sangue do mito racial ariano. Nessa ópera, Parsifal (ou Percival) era o campeão casto dos homens arianos, o único que poderia recuperar a lança sagrada, que penetrara o dorso de Cristo, e assim preservar o Graal, o talismã da raça alemã.

História

Thule é uma ilha ou região identificada pelos geógrafos clássicos como a mais setentrional das terras conhecidas. Também são encontradas, em textos e mapas medievais e do início da Idade Moderna, as grafias Thile, Tile, Tilla, Toolee e Tylen.

A Thule dos antigos

O primeiro a falar de Thule parece ter sido explorador grego Píteas (Pytheas), em Sobre o Oceano, obra escrita após as viagens que teria feito ao norte entre 330 a.C. e 320 a.C., quando foi enviado pela colônia grega de Massalia (atual Marselha) para pesquisar a origem de produtos ali comercializados. A obra foi perdida, mas citada por geógrafos posteriores.

Políbio, em suas Histórias (140 a.C.), cita Píteas como tendo induzido muitas pessoas a erro ao dizer que atravessou toda a Grã-Bretanha a pé e dar à ilha a circunferência de 40 mil estádios (8 mil km) e contar sobre Thule, "essas regiões nas quais não há mais propriamente terra, mar ou ar, mas uma espécie de mistura dos três com a consistência de uma água-viva na qual não se pode andar ou navegar".

Estrabão, na sua Geografia (30 d.C.), ao descrever o cálculo da circunferência da Terra por Eratóstenes, nota que Píteas disse que Thule, "a mais setentrional das Ilhas Britânicas" está a seis dias de navegação ao norte da Grã-Bretanha, perto do mar congelado, sobre o Círculo Ártico. Mas também escreve que Píteas era um mentiroso e as pessoas que viram a Grã-Bretanha e a Irlanda não mencionam Thule, embora falem de outras ilhas, menores, perto da Grã-Bretanha.

Em 77 d.C., Plínio, o Velho, ao discutir as ilhas em torno da Grã-Bretanha, diz que a mais distante conhecida é Thule, onde não há noites no meio do verão, nem dias no meio do inverno. Do paralelo mais setentrional, o "paralelo dos Citas", diz que passa pelos montes Rifeus e por Thule e que nessa latitude o dia dura seis meses e a noite outros seis meses.

Orosius (384-420 A.D) e o monge irlandês Dicuil (final do século VIII e início do IX), descreveram Thule como estando a noroeste da Irlanda e Grã-Bretanha, além das Faroe, o que parece sugerir a Islândia. O historiador Procopius, na primeira metade do século VI, disse que Thule era uma grande ilha do Norte habitada por 25 tribos, inclusive os Gautoi (provavelmente os godos, do sul da atual Suécia) e os Scrithiphini (provavelmente os saami, ou finlandeses) o que sugere a Escandinávia. Escreveu também que, quando os hérulos retornaram, eles atravessaram o Varni (povo germânico do atual Mecklenburg) e os Danes (dinamarqueses) e então cruzaram o mar rumo a Thule, onde se estabeleceram ao lado dos godos.

Thule no ocultismo

No século XVIII, o astrônomo francês Jean-Sylvain Bailly, considerando tábuas astronômicas indianas que ele acreditava terem sido compiladas muito ao norte da Índia (paralelo 49º), lendas zoroastristas segundo as quais os ancestrais dos iranianos vinham do “pólo norte” e o mito grego dos hiperbóreos, concebeu uma pré-história segundo a qual a Atlântida situara-se no extremo norte quando o mundo era mais quente - no arquipélago norueguês de Spitzbergen ou, talvez, na Groenlândia ou em Nova Zemlya.

Ainda não se ouvira falar da fissão nuclear, dos processos de desintegração radioativa que, sabe-se hoje, mantém quente o interior da Terra (e muito menos do processo de fusão do hidrogênio que sustenta o calor do Sol). Os astrônomos pensavam que nosso planeta havia esfriado continuamente a partir da bola de lava que fora há não mais que algumas dezenas de milhares de anos. Segundo essa ideia, o mundo devia ter sido bem mais quente há alguns milênios e, dentro de alguns mais, estaria completamente congelado.

Por isso, especulou Bailly, à medida que o clima esfriou, os atlantes se mudaram para a Sibéria, entre os rios Obi e Yenisei e depois para o Altai, no paralelo 49 (onde hoje se encontram as fronteiras da Rússia, China, Mongólia e Cazaquistão), a partir do qual se espalharam para a Índia, a Pérsia e a Europa. Segundo Bailly, "é coisa muito notável que o esclarecimento pareça ter vindo do Norte, contra o preconceito comum que a terra foi esclarecida, como também povoada a partir do Sul..." Tenta então mostrar que, de acordo com todas as lendas e a sabedoria antiga, "quando a humanidade começou a se reconstituir depois do Dilúvio de Noé, o mais puro fluxo de civilização desceu do norte da Ásia para a Índia que hoje tem a evidência de possuir o sistema astronômico mais antigo da Terra." Segue afirmando que, na maioria das antigas mitologias, parece existir a "memória racial" de uma "origem racial" no Norte distante e, posteriormente, uma migração gradual para o Sul.

Sociedade de Thule

Da concepção de Bailly, parece ter surgido a idéia de uma origem remota da humanidade e da civilização no Norte - ou, mais especificamente, da "raça branca" ou "ariana", identificada com "o mais puro fluxo de civilização" -, visto que os indianos se consideravam descendentes dos "arianos", que alguns europeus identificavam como os povos proto-indo-europeus de cujo idioma hipotético descendiam a maioria das modernas línguas indianas e europeias.

Na Alemanha, uma certa Sociedade de Thule, fundada pelo ocultista maçom Rudolf von Sebottendorff (pseudônimo de Adam Alfred Rudolf Glauer) em 18 de agosto de 1918 como seção local da "Ordem Teutônica Walvater do Santo Graal". Esta era, por sua vez, uma dissidência da "Ordem Teutônica" (Germanenorden) criada em 1912 por ocultistas anti-semitas.

Era uma entre várias organizações e filosofias ocultistas nordicistas e racistas, depois chamadas genericamente de "ariosofias", que surgiram na Alemanha a partir de 1890, das quais as mais conhecidas foram o Arminismo de Guido "von" List (que acreditava em runas, reencarnação e panteísmo) e a Teozoologia de Jörg Lanz von Liebenfels, segundo o qual a "raça ariana" havia se originado de um desaparecido continente nórdico chamado Arctogéia (Arktogäa, no original), ideia que também foi adotada por List. Segundo Joscelyn Godwin, Von Sebottendorff havia definido o objetivo da Germanenorden como criar uma comunidade espiritual chamada Halgadom, que abarcaria "todos os herdeiros da antiga Thule", da Espanha à Rússia.

A a ordem Walvater ("Pai de Todos", um dos nomes de Wotan ou Odin), parece ter retomado a noção de uma Atlântida ártica, hiperbórea, como origem da “raça ariana”. Como René Guénon - que também via no extremo norte um símbolo de espiritualidade -, Von Sebottendorff era admirador do sufismo e da astrologia.

A sociedade de Thule manteve relações com Alfred Rosenberg, Rudolf Hess, Julius Streicher e Dietrich Eckart – alguns dos principais ideólogos do movimento nazista - ou pelo menos os hospedou. O jornalista Karl Harrer, que foi seu membro, tornou-se também um dos fundadores do partido nazista e seu presidente. Foi o dentista Friedrich Krohn, membro da Sociedade de Thule, que escolheu a suástica como símbolo do partido nazista.

Entretanto, Adolf Hitler, que entrou no partido nazista logo após sua fundação, tomou a liderança a Harrer em 1920 e cortou os laços com a Sociedade de Thule. Em 1923, Von Sebottendorff foi expulso da Alemanha e a Sociedade que fundara foi dissolvida em 1925.

Em 1933, Von Sebottendorf retornou e escreveu um livro chamado Antes que Hitler Viesse (Bevor Hitler kam), no qual afirmava que sua Sociedade teria aberto o caminho para Hitler: "Foi aos membros da Sociedade de Thule que Hitler veio primeiro e foram eles os primeiros a se unir a Hitler".

Em março de 1934 o livro foi proibido. O autor foi preso em um campo de concentração e depois exilado na Turquia, onde se suicidou após a derrota dos nazistas. A partir de 1935, com uma lei "anti-maçônica", os nazistas também puseram fora da lei todas as organizações esotéricas.

A suposta Thule do nazismo

A maior parte do que se diz sobre as ideias dos nazistas históricos sobre Thule baseia-se em boatos. Alguns nazistas possivelmente acreditaram nelas ou em ideias mais ou menos análogas, mas nada indica que Adolf Hitler tivesse um interesse real no assunto, ou qualquer interesse no ocultismo além do que pudesse servir como propaganda anti-semita. Permitia ao chefe da SS, Henrich Himmler devotar recursos não desprezíveis a essa pesquisa, mas zombava de suas obsessões ocultistas e as continha sempre que suas idéias neopagãs pudessem causar conflito com os militantes e simpatizantes do nazismo mais conservadores ou com as igrejas cristãs.

Ainda assim, essas especulações tornaram-se um mito em si mesmas, principalmente depois da publicação de O Despertar dos Mágicos, de 1960. Segundo o livro, o general e ideólogo nazista Karl Haushofer teria acreditado que quando Thule (ou Hiperbórea) tornou-se inabitável, os arianos migraram para o sul.

Um grupo foi para a Atlântida, onde se misturou com os lemurianos, que também haviam migrado para lá. Os descendentes desses arianos impuros voltaram-se para a magia negra e a conquista.

O outro ramo passou pela América do Norte e pelo norte da Eurásia e fixou-se no atual deserto de Gobi, onde fundaram Agarthi. Segundo Jean-Claude Frère, que em 1974 publicou Nazisme et sociétés Secrètes, sobre o mesmo tema, a Sociedade de Thule identificava Agarthi com a Asgard da mitologia nórdica.

Depois de um cataclismo mundial, os arianos de Agarthi novamente dividiram-se em dois grupos. Um foi para o sul e fundou um centro secreto de saber sob o Himalaia, também chamado Agarthi, onde preservaram os ensinamentos da virtude e do vril. O outro grupo tentou retornar a Thule ou Hiperbórea, mas em vez disso fundou Shambhala, uma cidade de violência, maldade e materialismo. Agarthi seria a detentora do caminho da mão direita e do vril positivo, enquanto Shambhala guardaria o caminho da mão esquerda e da energia negativa. Os nazistas teriam buscado ajuda em ambas essas civilizações (para mais detalhes, veja Agartha).

Este cenário parece basear-se em grande parte nas idéias do nazista holandês Herman Wirth (1885-1981), que de 1935 a 1937 dirigiu a "Sociedade de Estudos da Ciência Intelectual Primordial da Herança Ancestral Alemã" (Studiengesellschaft für Geistesurgeschichte‚ Deutsches Ahnenerbe), grupo de estudos nazista sobre história antiga, de cuja fundação também participaram Himmler e o ministro da Agricultura Richard Walther Darré.

Em A Origem da Humanidade (Der Aufgang der Menschheit, 1928), Wirth escreveu que uma terra desaparecida no Ártico havia sido a pátria original da "raça nórdica-atlante" primordial e que, com seu congelamento, seu povo teria migrado para a Atlântida. Com o posterior afundamento dessa terra, seu povo teria emigrado para a América do Norte e a Europa. Para mais detalhes, leia Atland, nome dado à Atlântida no suposto manuscrito frísio medieval no qual se apoiavam as teses de Wirth.

Em 1937, o arqueólogo alemão Edmund Kiss publicou o livro A Porta do Sol de Tiahuanaco e a Doutrina do Gelo Universal de Hörbiger, no qual escreveu que as ruínas de Tiahuanaco foram fundadas por habitantes de Thule há mais de 17 mil anos, conforme a especulação do engenheiro peruano Arthur Posnansky em 1911. Além disso, Kiss relacionou essa tese com a doutrina de Hörbiger (leia mais em Cosmogonia Glacial). Himmler planejou enviar Kiss de volta a Tihuanaco com uma equipe de pesquisadores da Ahnenerbe, mas a expedição foi cancelada pela irrupção da II Guerra Mundial.

Guénon

Em o O Rei do Mundo (Le Roi du Monde, de 1927), o ocultista francês René Guénon expressou a crença na existência literal de Thule como centro original da civilização humana, representada como um "Eixo do Mundo", uma "montanha sagrada":

Quase toda tradição tem seu nome para essa montanha, tal como o Meru hindu, o Alborj persa e o Montsalvat da lenda ocidental do Graal. Há também a montanha árabe Qaf e a grega Olimpo, que em muitos aspectos tem o mesmo significado. Consiste de uma região que, como o Paraíso Terrestre, tornou-se inacessível à humanidade ordinária e que está além do alcance dos cataclismos que perturbam o mundo humano ao final de certos períodos cíclicos. Essa região é o autêntico "país supremo" que, de acordo com certos textos védicos e avésticos, estava originalmente situada no Pólo Norte, até mesmo no sentido literal da palavra. Embora possa mudar sua localização de acordo com as diferentes fases da história humana, ele continua a ser polar em um sentido simbólico porque essencialmente representa o eixo fixo em torno do qual tudo gira.

Segundo Guénon, os textos védicos chamam o país supremo de Paradesha, ou "Coração do Mundo". Seria a palavra da qual os caldeus formaram Pardes e os ocidentais, Paraíso. Há ainda outro nome, que seria ainda mais antigo: Tula, chamada pelos gregos Thule. Comum a regiões da Rússia à América Central, Tula representaria o estado primordial do qual o poder espiritual emanou.

Ainda segundo Guénon, a Tula mexicana deve sua origem aos Toltecas que vieram, segundo se diz, de Aztlán, a "terra no meio da água", que é "evidentemente" a Atlântida. Trouxeram o nome de Tula de seu país de origem e o eram a um centro que conseqüentemente precisaria substituir, até certo ponto, o do continente perdido. Por outro lado, a Tula atlante precisa ser distinguida da Tula hiperbórea e a última representa o centro primeiro e supremo.

É preciso assinalar aqui que, na verdade, a lenda da origem em Aztlán não é do povo historicamente conhecido como tolteca e sim dos astecas, nome que lhes foi dado por historiadores precisamente em função dessa lenda e os astecas fundaram sua cidade em 1325, muito depois da queda dos toltecas, cujo império foi destruído por chichimecas no século XII. Aztlán era representada pelos astecas como uma ilha dentro de um lago continental e eles datavam o início de sua migração de 1064 d.C.

A capital dos toltecas se chamou Tula, ou mais precisamente Tollán - "lugar das taboas", em náhuatl, com o sentido figurado de lugar onde as pessoas estão apinhadas como juncos. Mas os toltecas também não tinham a antiguidade que Guénon e Helena Blavatsky lhes atribuía, iludidos pelas crenças dos astecas, que atribuíam todas as construções anteriores a seu tempo aos mesmos "toltecas" (palavra que significa "construtor"). Sua civilização surgiu no século X, muito depois de outras civilizações mexicanas, como a dos olmecas e de Teotihuacán.