Santo Graal ( ou Sangraal ) é uma expressão medieval que designa
normalmente o cálice usado por Jesus Cristo na Última Ceia. Ele está
presente nas lendas arturianas, sendo o objetivo da busca dos cavaleiros
da Távola Redonda, único objeto com capacidade para devolver a paz ao
reino de Artur. No entanto, em outra interpretação, ele designa a
descendência de Jesus ( o sangraal ou sangue real ), segundo a lenda,
ligada à dinastia Merovíngia. Finalmente, também há uma interpretação em
que ele é a representação do corpo de Maria Madalena, a suposta esposa
de Jesus e sua herdeira na condução da nova religião.
O símbolo do cálice sagrado, enquanto motivo de poder e fonte de
milagres, é tão antigo quanto a História. O SANTO GRAAL teve múltiplos
precursores e apareceu sob variadas formas antes de ter sido
identificado com o cálice do ritual usado na missa católica. Muitas
vezes o GRAAL foi descrito não como um cálice, mas como uma pedra. Neste
sentido o símbolo é profundamente alquímico, ou seja – a conciliação
dos opostos mediante a harmonia entre o céu e a terra. A etimologia da
palavra Graal é controvertida. Costuma-se considerá-la como oriunda do
latim "gradais" - cálice. Outros dizem que "Graal" vem de outra palavra
latina - 'graduale' que significa 'gradual" um livro de orações e
cânticos místicos.
Os celtas se referiam ao Graal como um caldeirão e a lenda em torno de um cálice sagrado pode ter relação com a importância que os celtas davam ao caldeirão, onde os druidas preparavam suas poções mágicas. Esse conceito popular lembrava-lhes abundância e renascimento. Muitos personagens míticos dos celtas estavam envolvidos com esse símbolo: Nasciens, foi transportado por mãos invisíveis para uma ilha onde lhe apareceu um caldeirão mágico; Dagda fortalecia os guerreiros com o alimento do caldeirão. Outro caldeirão célebre foi o pertencente à deusa Caridween, que preparou uma poção para infundir sabedoria em seu filho. Os recipientes, como a taça, o caldeirão e os vasos, são símbolos do útero, a matriz da vida e a espada o órgão masculino fecundador. É no vazio que acontece o ciclo permanente de nascimento, morte e renascimento. Os cálices são oferendas ao espírito desconhecido que preside determinado tempo e local, uma oração que se eleva a Deus, pedindo que seu Espírito desça à terra. Este é o significado sagrado da missa católica: dois movimentos de direções opostas – o cálice voltado para o céu e o espírito projetando-se sobre ele – formam o ciclo de dar e receber, o eixo entre o superior e o inferior.
Antes do século VII, a tradição e a Bíblia propiciaram o desenvolvimento
de uma lenda intrigante sobre o cálice sagrado. Diz essa lenda que,
antes da criação do homem, houve uma grande batalha no céu. O Arcanjo
Miguel e seus anjos guerrearam contra Lúcifer. O adversário e seus anjos
combateram ferozmente, diz a Bíblia; "todavia não venceram, nem acharam
mais seu lugar no céu. E a antiga serpente, o Grande Dragão chamado
demônio ou satanás foi expulso de lá sendo atirado para a terra com seus
anjos". Diz a lenda que Lúcifer trazia um pedra colada na testa, uma
esmeralda que funcionava como um terceiro olho. Quando Lúcifer foi
atirado pelo Arcanjo Miguel à terra, a esmeralda partiu-se e sua visão
ficou prejudicada. Um pedaço permaneceu em sua testa dando-lhe uma visão
distorcida de sua situação como anjo caído; o outro fragmento foi
guardado pelos anjos. Mais tarde, o Graal foi esculpido neste segundo
pedaço.
Parece que durante sua presença na terra, o GRAAL necessitou de um
abrigo e, dado ao seu caráter espiritual, essa habitação deveria ser um
templo especialmente projetado para esse fim e oculto da visão dos
profanos.
Mesmo se encararmos o GRAAL como um tema pertencente aos planos inexplorados da alma, restam-nos alguns enigmas históricos relacionados com a figura de Jesus Cristo, José de Arimatéia, o Rei Arthur e, mais tarde, com os estranhos acontecimentos que marcaram a vida e agonia dos Cátaros na região do Languedoc, no sul da França. Esses episódios, custaram a vida de milhares de pessoas e permanecem até hoje como indicadores da provável existência física de um Rei e Sacerdote do Santo Graal. Seria esse o Rei, eterno e onipresente Sacerdote da Távola Redonda, uma versão medieval inglesa relacionada à mesa da Última Ceia, sob a proteção de Arthur ? Ou seria essa Mesa Redonda uma forma de os místicos simbolizarem os círculos do infinito celeste e a egrégora da Grande Fraternidade Branca? Conta uma antiga lenda cristã, que José de Arimatéia teria recolhido no cálice, usado na Última Ceia, o sangue que jorrou de Cristo quando ele recebeu o golpe de misericórdia, dado pelo soldado romano Longinus, usando uma lança, depois da crucificação. Em outra versão, teria sido a própria Maria Madalena, segundo a Bíblia a única mulher além de Maria (a mãe de Jesus) presente na crucificação de Jesus, que teria ficado com a guarda do cálice e o teria levado para a França, onde passou o resto de sua vida. A lenda tornou-se popular na Europa nos séculos XII e XIII por meio dos romances de Chrétien de Troyes, particularmente através do livro "Le Conte du Graal" publicado por volta de 1190, e que conta a busca de Sir Percival pelo cálice. Mais tarde, o poeta francês Robert de Boron publicou Roman de L'Estoire du Graal, escrito entre 1200 e 1210, e que tornou-se a versão mais popular da história, e já tem todos os elementos da lenda como a conhecemos hoje. Finalmente, o poeta Wolfram von Eschenbach criou a mais inventiva e surpreendente versão para a história do Graal, em sua obra "Parsifal", escrita entre os anos de 1210 e 1220. Ele supõe o Graal anterior a Cristo. O Graal teria sido, não um cálice, mas uma pedra enviada a Terra há muito tempo atrás por espíritos celestiais. O Graal teria sido guardado por uma misteriosa irmandade de cavaleiros, chamados templáisen. Na literatura medieval, a procura do Graal representava a tentativa por parte do cavaleiro de alcançar a perfeição. Em torno dele criou-se um complexo conjunto de histórias relacionadas com o reinado de Artur na Inglaterra, e da busca que os cavaleiros da Távola Redonda fizeram para obtê-lo e devolver a paz ao reino. Nas histórias misturam-se elementos cristãos e pagãos relacionados com a cultura celta. Segundo algumas histórias, o Santo Graal teria ficado sob a tutela da Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão, também conhecida como Ordem do Templo, ou simplesmente "Templários". Instituição militar-religiosa criada para defender as conquistas nas Cruzadas e os peregrinos na Terra Santa. Alguns associam os templários a irmandade que Wolfram cita em "Parsifal". Segundo uma das versões da lenda, os templários teriam levado o cálice para a aldeia francesa de Rennes-Le-Château. Em outra versão, o cálice teria sido levado de Constantinopla para Troyes, na França, onde ele desapareceu durante a Revolução francesa. Os cátaros, acreditavam que este mundo é o verdadeiro inferno; que a encarnação do Espírito do Cristo foi o verdadeiro sacrifício simbolizado na cruz do calvário. A Igreja Romana via o catarismo como um movimento reformista. No início do século XIII uma armada de cavaleiros do norte desceu pelo Languedoc para exterminar a heresia cátara e requisitar para si os ricos espólios da região. Conta-se que durante o assalto das tropas às fortalezas albigenses, apareceu no alto da muralha uma figura coberta por uma armadura branca. Os soldados recuaram, temendo ser um guardião do Santo Graal. Mas, prevendo a derrota, os cátaros, ocultaram o Santo Graal num dos numerosos subterrâneos onde estaria até hoje. Nesse contexto histórico poderiam ser explicados os mistérios do Messias e as verdades que a Igreja proibiu sobre a "dinastia do cálice", a matança dos cátaros, as cruzadas e a história do abade Berenger Saunière em Rennes-le-Château, no Languedoc.
Segundo algumas lendas, a descendência de Jesus era de sangue real, ele
próprio herdeiro do trono de Jerusalém por ser descendente do Rei Davi, e
migrou para a Europa, particularmente para a França e fundou a dinastia
merovíngia, cuja posição, mais tarde, foi usurpada pelos carolíngios e
pela Igreja Católica. Neste caso, o sangraal ou sangue real seria a
própria descendência de Jesus, os merovíngios.
Os merovíngios se diziam descendentes de reis de Tróia, e isto justifica tantas localidades na França que possuem um nome que lembra Tróia, inclusive a cidade natal de Chrétien de Troyes, autor das primeiras histórias sobre o Graal. Histórias revelam a existência de uma sociedade secreta, chamada Priorado de Sião, que se dedica a defender a descendência Merovíngia e seu direito ao trono na Europa. Segundo algumas fontes, o Priorado do Sião justifica este direito pela descendência direta de Jesus e do Rei Davi. .
Além destas lendas, existem também outras histórias paralelas, como a
que conta que o Santo Graal, na verdade, é o corpo de Maria Madalena.
Ela seria a esposa de Cristo e deveria ser a herdeira da nova religião. A história também diz que junto ao cadáver desta, estariam preciosos pergaminhos e documentos escritos pelos apóstolos de Jesus e pelo próprio Cristo. Tais pergaminhos segundo a lenda, são extremamente contraditórios com a Bíblia e portanto um verdadeiro tesouro sobre o legado de Cristo na Terra. Em 1948, na localidade de Nag Hammadi, foram encontrados pergaminhos que continham evangelhos apócrifos, e cujo conjunto de textos foi chamado de biblioteca de Nag Hammadi. As cópias destes evangelhos supunham-se perdidas, pois haviam sido proibidas e queimadas pela Igreja após o concílio de Nicéia. Entre estes documentos antigos encontra-se o "Evangelho de Maria Madalena", que apresenta inconsistências com os quatro evangelhos aceitos pela Igreja. Um dos pontos é que entre os seus discípulos, Maria Madalena é a preferida, e é ela que transmite os ensinamentos de Jesus aos outros. Em outro documento da biblioteca de Nag Hammadi, o "Evangelho de Filipe", faz-se referência ao fato que Jesus a ama mais que aos outros discípulos e a beija com frequência. Tudo isto fortalece a hipótese do casamento entre ambos, e que seja Maria Madalena e sua descendência os verdadeiros herdeiros da religião fundada por Jesus. Um grande argumento em favor desta união, é a de que era impensável que um judeu, naquela época, chegasse aos 30 anos sem estar casado.
Do ponto de vista místico, a busca do Graal representa a busca por uma
vida superior, por progresso espiritual. Nas lendas arturianas, só é
possivel às pessoas de coração puro e isentas de pecado ver e tocar o
cálice.
Para o iniciado, o caminho do GRAAL está indissoluvelmente unido à idéia de um sacrifício e de uma viagem cheia de perigos para alcançar a iluminação, o renascimento ou a "vida eterna" segundo os cristãos. O início e o final da Busca do SANTO GRAAL são, por isso mesmo, momentos cruciais, pois é uma busca que não termina. O GRAAL tem que ser constantemente buscado no coração, na mente e no espírito; sua revelação final representa aquele ideal de subida aos planos superiores de existência, objetivo máximo de todos os místicos. Ao entrar em comunhão consigo mesmo, o místico descobre não uma melancolia - a cor negra, "nigredo" para os alquimistas - mas um parceiro interno, uma relação que se assemelha à alegria de um amor secreto. Este estágio da vida iniciática é representado pela primavera oculta, onde as sementes brotam da terra nua, trazendo as promessas de futuras colheitas. |
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